Somos economicamente frágeis porque não desconstruímos os processos discriminatórios.
O crescimento de 2,7% no PIB não é apenas uma consequência da crise europeia como muitos tentam fazer acreditar. É fato que a recessão nos países daquela região afeta nossas exportações, trazendo graves consequência para as empresas exportadoras com a diminuição de suas demandas que podem ocasionar a redução de seu número de empregados. Mais é fato também que há muito tempo a Europa deixou de ser nosso o principal cliente, ficando bem distante da Ásia e dos Estados Unidos. Portanto, esta influência deve ser relativizada.
Não podemos esquecer que a pauta de exportação brasileira é basicamente de produtos primários ou semi-industrializado, em consequência, principalmente, da fraca produção de ciência e tecnologia. Estes produtos têm mercado certo, principalmente nos países asiáticos, principalmente na China, onde a economia tem crescido nos últimos anos a uma média quase 10% ao ano. O problema é que estes produtos agregam pouca mão de obra de qualificada. Além dos danos ambientais causados. Portanto, a contribuição destes produtos, embora importante, pouco contribui para o desenvolvimento brasileiro.
É no mercado interno que devemos buscar a saída para a crise que nos avizinha. Nosso mercado interno tem potencial não apenas para o consumo, mas principalmente para a produção e reprodução da riqueza. Temos milhões de empreendedores que são tratados como marginais, classificados no gueto de informais. Esta classificação lhes dão o “direito” a espaços vexatórios chamados de “camelódromos”. Não precisamos nem destacar que estes empreendedores são majoritariamente afro-brasileiros.
A discriminação contra os empreendedores afro-brasileiros prejudica toda a economia nacional. Discriminação significa restrição à liberdade do indivíduo. Esta restrição à liberdade é o principal entreva à capacidade de produzir riquezas. É à geração de riqueza, que deve ser incentivada. Portanto, o caminho é pela geração de riqueza e não pela contenção de despesas.
Se conseguir permitir que além da produção do capital o empreendedor da economia informal, consiga fazê-lo reproduzir, estaremos dando importante passo para um desenvolvimento realmente sustentável. Esta possibilidade torna-se distante com as atuais taxas juros. Entendemos que a elevada taxa de juros é o principal instrumento de discriminação contra os afro-brasileiros, empreendedores discriminados.
Comemorarmos a ultrapassagem da Inglaterra no ranking das superpotências e ao mesmo tempo não termos universidades que se aproximam, no ranking acadêmico, das daquele país, beira ao ridículo. Esta situação é fruto da discriminação na distribuição dos recursos de ciência, pesquisa e tecnologia no país. Com um modelo sem transparência, concentrado e burocrático que inibe a competição e, consequentemente a produção de ciência e tecnologia de qualidade, seremos eternamente exportadores de matérias primas.
Sem a inclusão dos milhões de empreendedores afro-brasileiros, estaremos condenados a crescer em minguados 3%, apesar das “marolinhas”. Esta inclusão não será efeito de medidas burocráticas como o “simples nacional” e coisas parecidas. Ela só se dará com medidas que desmonte a cultura discriminatória da sociedade brasileira, principalmente contra os afro-brasileiros.
Prof. Nilo Rosa
quinta-feira, 8 de março de 2012
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