terça-feira, 27 de junho de 2023

Os Juros Racistas

 

Para entender a insistência do Presidente do Banco Central em contrariar a ortodoxia econômica e manter a Selic nos atuais patamares, devemos sair da economia e adentrarmos na filosofia. Alias, esta é a formação do mentor desta autoridade, Roberto Campos Filho, seu avo.

Quem é o presidente do Banco Central. Um economista que trabalhou anos no sistema financeiro privado, portanto “servidor” dos donos capital. Com uma formação acadêmica e intelectual básica, este senhor foi escolhido como uma mensagem politica simbólica, já que o seu mentor foi um dos mentores do golpe de 64. Portanto, sua escolha não foi por mérito intelectual.

Sem mérito intelectual, este economista é o que restou do projeto racista derrotado nas ultimas eleições. Junta-se a isto a maioria conservadora do congresso eleito com o dinheiro publico angariado pelo “orçamento secreto”. Está formado o “escrete” da revanche.  Ele joga na “ponta direita”, atacando com lances absurdos e os “pernas de paus” jogam na defesa, não deixando passar qualquer avanço do projeto vitorioso.

Os juros são a remuneração do capital, por isso numa sociedade de exclusão. Os juros devem ser vistos como uma relação de confiança entre “o tomador” do capital e  “o cedente” que o detém em confiança de terceiros. Trata-se de uma relação direta, assim se a confiança é elevada, os juros serão baixo, caso contrário, os juros serão elevados. No da sociedade brasileira, a maioria dos “tomares” são afro-brasileiros os cedentes, os cedentes são brancos.

Portanto, o mercado, através de sua hipertrofiada “Instituição Cultura”, exige uma  elevada taxa de juros. Este torna-se o principal instrumento do racismo. É dentro desta lógica que se deve analisar as decisões de um “servidor” dos donos do capital. 

segunda-feira, 19 de junho de 2023

Sindicalismo, autonomia e poder: o jogo dos anos oitenta

 

Sindicalismo, autonomia e poder: o jogo dos anos oitenta

            Artista, sindicalista e político Manuel Querino compreendeu o importante papel da Cultura na luta pelos trabalhadores. Por isso, deu-nos uma forte contribuição ao mostrar a importância da contribuição dos africanos e afro-brasileiros. Seus ensinamentos são passos a seguir para quem deseja lutar contra as injustiças promovidas por uma cultura de exclusão.

As elites reconstroem o "Outro" como seu contrário; este a completa e ao mesmo tempo a ameaça. Completa como portador de uma parte de sua história que ela insiste em negar. E ameaça, porque ele pode ocupar o lugar que culturalmente lhe é reservado. Este lugar pode ser nas relações de trabalho, nas relações políticas, e mesmo nas relações afetivas. E assim, ela (a elite) constrói hierarquias dentro destes espaços e congela as relações sociais dentro destes espaços hierarquizados. O resultado final se identificava com o modelo. Com efeito, a partir da segunda metade dos anos oitenta, os parlamentos municipais, estaduais e federal recebem os primeiros eleitos egressos do movimento sindical ligados à esquerda. Estes distanciam-se das referências simbólicas dos principais líderes sindicais que disputavam o poder institucional. Isto é, os líderes sindicais do início do processo foram usados como “boi de piranha” e, assim, foram “assassinados”.

Os sindicalistas negros que disputavam o poder neste período não compreenderam que se tratava de uma luta cultural, onde aqueles que eram negros não podiam chegar ao poder. Estes não dispunham de instrumental suficiente para compreender esta lógica. O instrumental que usavam era dominado por seus companheiros brancos. O mesmo acontecia com os militantes negros, sejam dos movimentos bairros; sejam do movimento estudantil, todos eram orientados por uma pseudociência, produzida pelos exploradores e sequestradoras de seus antepassados.

Os Afro-brasileiros não aprenderam a lição ensinada por Querino. Em razão disto, perderam o "bonde da história nas radicais mudanças ocorridas após os anos oitenta. As lutas empreendidas por nosso Mestre tinham a pauta da autonomia de atuação como guia principal da defesa da classe trabalhadora.

A conclusão que nos vem é que uma luta legitima e oportuna no tempo e no espaço é inseparável do contexto social e das relações nele inseridas. Assim, no cenário da desigualdade social baiana, que opõe os afro-brasileiros e os representantes da “elite cultural reformista”, prevalece a lógica de exclusão do Outro. O que nos intrigava para chegarmos a esta conclusão era: como um quadro político heterogêneo se confundia com um quadro social, político e econômico? A resposta só́ pode ser encontrada ao se analisar o quadro histórico de uma sociedade que tentou construir uma homogeneidade tendo como base a exclusão do "Outro".

quinta-feira, 15 de junho de 2023

A Bahia dá Regra e Compasso: Manoel Querino é o modelo

 


A Bahia dá Regra e Compasso: Manoel Querino é o modelo

 

Manoel Querino deu regra e compasso para a transformação da realidade do negro no Brasil. No IX CBPN, vamos mostrar como.

 

Artista, sindicalista, jornalista, pesquisador foram as inúmeras atividades deste que foi um dos mais completos intelectuais brasileiros. Nascido em Santo Amaro da Purificação, lá se vão cento e setenta e dois anos, fica órfão de pai e mãe aos quatro anos de idade.

 

De artista a pioneiro na pesquisa da cultura africana no Brasil, Querino vai do engajamento militar a uma propositiva ação parlamentar. Neste percurso, denota-se uma profunda preocupação em defesa daqueles que vivem do trabalho.

 

Depois de uma bem sucedida atividades na busca da construção de agregação, Querino vai se dedicar exclusivamente a uma produtiva atividade intelectual pesquisa. Sua vasta produção intelectual, registrada em diversos textos, trazem profundos ensinamentos.

 

Hoje importantes pesquisas mostram a contribuição de Querino para a luta pelo resgate da cultura Africana e Afro-brasileiras fundamentais na luta contra o racismo.

 

É, tentando seguir estes passos, que vamos contribuir neste Congresso Baiano de Pesquisadores Negros.


Rumo ao IX CBPN

segunda-feira, 12 de junho de 2023

Pretos Oitenta e Dois

 

Pretos Oitenta e Dois

 

Pretos Oitenta e dois comprova que toda tentativa de autonomia do movimento negro sofre um processo violento de reação. Veremos que neste caso a reação, esta reação, vem daqueles que se colocam sinceramente ao lado da classe operário, mas que ousam a reagir a todos que, mesmo estando ao lado dos oprimidos, contrariam seus credos.

 

A abertura politica, iniciada em meados dos anos 70, vai encontrar o movimento negro iniciando um novo momento de luta. A primeira eleição livre aconteceu em 1982. A legislação partidária autorizou a participação de vários segmentos ideológicos, levando a formação de vários partidos das elites culturais reformistas.

 

O Partido dos Trabalhadores foi a grande novidade. Agrupava em seu  interior organizações marxistas que pretendiam disputar o destino desta agremiação. As organizações mais a “esquerda”, principalmente as ligadas ao pensamento Stalin, não se legalizaram em razão da desconfiança dos propósitos dos militares, continuaram abrigadas em algumas legendas. Dentre os candidatos ligados aos movimentos sociais, se destacava Ivan Carvalho.

 

Ivan Carvalho lança o manifesto “Pretos82”. Neste documento, manifesta-se, corajosamente, contra a ditadura militar. Neste manifesto, Ivan Carvalho relacionava vários candidatos pretos. A maioria dos pretos relacionados eram integrantes de organizações marxistas abrigadas no Partido dos Trabalhadores. A ideia do manifesto foi repudiada por muitos dos relacionados; alguns ameaçaram agir com violência contra Ivan Carvalho. Embora o manifesto não os vinculava ao candidato. Provavelmente, alguns dos relacionados não se consideravam “pretos”.

 

Ivan era economista e engenheiro químico. Era um profissional capaz e muito respeito em suas atividades. Desta forma, bem sucedido profissionalmente Ivan Carvalho era invejado por muitos que militavam ao seu redor. Era um pai exemplar, sempre preocupado com a forma de seus filhos. A carreira politica foi marcada pela ousadia e criatividade. Ivan não tinha ligação politica com os grupos políticos que disputavam o poder. Candidato a Deputado Federal em 1982. Candidato a senador em 1988, ele enfrentou o todo poderoso, aquela época, dono da Bahia.

 

O aparecimento de novos partidos políticos colocou no cenário politico novos atores. Estes atores travaram uma luta “sans merci”. Muitos dirigentes sindicais negros foram cassados como pelegos ou como parceiros indesejados no compartilhamento do poder que apresentava como possível. Eram “Outros”, apenas com o papel legitimador, qual seja “culpados inúteis”.

 

“Pretos/82” pretendia agrupar os candidatos negros centralizando a luta no combate ao racismo. No entanto, os candidatos relacionados eram militantes de organizações marxistas e entendiam que a questão racial dividia a luta a classe operária. Para estes pretos primeiro deveríamos fazer a revolução proletária da classe trabalhadora usando suas teorias revolucionarias importadas do estoque dos sequestradores de seus antepassados.

 

Muitos dos  “pretos” listados no Manifesto Pretos82 são hoje militantes de organizações negras. Com efeito, abrigados em ONG, sindicatos e instituições publicas, estes, agora de fatos “pretos” ainda  mantenham a mesma leitura da luta politica. Frustrados em seus propósitos políticos em decorrência da exclusão em seus partidos e grupos políticos, alguns até expulsos.

 

Portanto, Ivan Carvalho era um politico a frente de seu tempo, uma vez que “Pretos82”, na verdade, foi um manifesto pela autonomia da luta do politica do Povo Negro.

 

Nos Passos de Querino: Rumo ao IX CBPN