quarta-feira, 31 de agosto de 2011

5. LUTAS POLÍTICAS: duas concepções

O MOVIMENTO NEGRO QUE VI

5. LUTAS POLÍTICAS: duas concepções

As concepções de luta política contra a discriminação dos afrobrasileiros talvez sejam tão numerosas quantos as línguas faladas em nossa África. Mas vamos nos deter em duas que se afrontam dentro do Partido dos Trabalhadores, que hoje elabora as diretrizes da atuação das duas concepções.
A primeira preconiza que dentro do Partido podem-se conceber muitos avanços na luta contra a discriminação dos Afro-brasileiros. A segunda vaticina que o Partido utiliza-se dos militantes negros para carregar suas bandeiras dos “capas brancos”. Esta concepção esta baseada na desnecessidade da intermediação entre o cidadão e o poder, por isso o desprezo pelas instituições partidárias e instituições de modo geral.
Os defensores da primeira concepção, por conseqüência, se engajaram fortemente na construção do Partido e na luta contra a discriminação, no seu interior. A segunda corrente, acreditando na ineficácia dos partidos, distancia-se destes, contribuindo, como candidatos, de forma limitada, nos momentos de disputas eleitorais.
Em torno da primeira concepção, existe um grupo que desde os primeiros anos do Partido dos Trabalhadores sempre discutiu a questão da discriminação dos afrobrasileiros no interior do partido. Estes acreditavam que o movimento negro daria ferramenta para a intervenção partidária, de tal forma que, na questão da discriminação contra os afro-brasileiros, o Partido repetiria os discursos das instituições sociais negras nas quais militavam.
Nestes quase trinta anos eles criaram comissões, coordenações, coletivos, secretarias, encontros etc. Dentro do Movimento Negro estes militantes sempre foram taxados de tentarem influenciá-lo de acordo com as ordens de “seus capas”, como diziam. Alguns foram mesmo discriminados no interior de algumas entidades, impedidos de assumir Coordenações Municipais ou fazerem parte das Coordenações nacional, como foi o meu caso.
O segundo segmento acredita que a luta dos afrobrasileiros no interior dos partidos não tem futuro, pois a cultura eurocêntrica dentro destes cria dificuldades a compreensão da questão dos afro-brasileiros. Em conseqüência, suas participações são pontuais, algumas vezes como candidatos. Mas não participam de construção de comissões, coordenações, coletivos, secretarias, encontros etc. Defendem publicamente que os negros dentro dos partidos e das correntes políticas de alguns partidos são marionetes da ideologia destes.
Com efeito, abstraindo os exageros, as agressões e os lugares comuns de alguns discursos, é forçoso reconhecer que a segunda concepção acerta ao insistir na incapacidade do Partido ou dos partidos de encampar demandas especificas dos segmentos afro-descentes majoritários da sociedade. Este acerto se verifica empiricamente na absorção dos formuladores da segunda concepção em cargos sem expressão política e em posição não estratégica na formulação de políticas públicas.
Entretanto, os integrantes da primeira opção, a qual me filio, devem continuar construindo a luta partidária, como tem sido construída por um conjunto de afro-brasileiros, que ocupam funções de expressão política e estratégicas dentro do Partido e nos governos que o Partido vem conquistando. Portanto, se a segunda concepção acerta no curto prazo em aproveitar as oportunidades imediatas; o segundo grupo, acerta no longo prazo construindo uma alternativa segura de construção institucional, que é um partido político.

Prof. Nilo Rosa

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Mais ciência e tecnologia para nossas universidades


O pacto federativo começou a ser restabelecido com a recente decisão da Presidenta Dilma de dar início ao processo de instalações de duas universidades na Bahia. Com efeito, estados com importância econômica e política próximas ao nosso abrigam um número de instituições públicas de ensino superior público algumas vezes o nosso: Minas gerais, 6 vezes; Rio Grande do Sul, 3 vezes. Portanto, a decisão chega tarde, mas..., antes tarde do que nunca.

É evidente que esperamos muito mais. Queremos levar o ensino superior ao Semi-arido, região importante, mas sem um centro universitário local; queremos a universidade federal de Vitória da Conquista, importante polo econômico e populacional. Acreditamos que muitas demandas justas irão aparecer, assim que as recentes decisões forem implementadas e os resultados econômicos, políticos e sociais forem surgindo nas respectivas regiões.

Entretanto, a concentração de cursos de pós-graduação em poucos estados da federação além de agravar a violência ao pacto federativo, impede a produção de ciência e tecnologia em nossas instituições; por isso, estas decisões devem ser imediatamente complementadas com a descentralização da autorização de cursos de pós-graduação. De fato, apenas três estados da federação concentram quase 70% dos cursos de pós-graduação, razão de ser de uma universidade. Esta concentração tem sido prejudicial ao desenvolvimento tecnológico e cientifico do país, nossas melhores universidades estão nas piores colocação no “ranking” mundial e o país, idem na produção de ciência e tecnologia. Esta violenta concentração, impede a competição.

As lutas no interior das atuais e futuras universidades devem ser no sentido de trazer para os estados nordestinos a responsabilidade da autorização e implantação de cursos de mestrados e doutorados para os atuais e futuros formandos das nossas instituições de ensino, pois não existe universidades sem pesquisa e esta é papel dos cursos de pós-graduação. O financiamento e as bolsas devem continuar com as agências federais, resgatando o equilíbrio federativo, dentro de um espirito de justiça equitável de reparação histórica ao Nordeste.

Portanto, para tirar o país do atraso, a luta por mais universidades na Bahia e no Nordeste deve ser acompanhada da luta pela descentralização dos cursos de pós-graduação para os estados única forma de liberar a produção cientifica e tecnológica do país.

Prof. Nilo Rosa

terça-feira, 16 de agosto de 2011

O MOVIMENTO NEGRO QUE VI

5. LUTAS POLÍTICAS: duas concepções

As concepções de luta política contra a discriminação dos afrobrasileiros talvez sejam tão numerosas quantos as línguas faladas em nossa África. Mas vamos nos deter em duas que se afrontam dentro do Partido dos Trabalhadores.
A primeira preconiza que dentro dos partidos se pode conceber muitos avanços na luta contra a discriminação dos afrobrasileiros. A segunda preconiza que os partidos utilizam-se dos militantes negros para carregar suas bandeiras. Esta concepção esta baseada na desnecessidade da intermediação entre o cidadão e o poder, por isso o desprezo pelas instituições partidárias.

Os defensores da primeira concepção, por consequência, se engajaram fortemente na construção do Partido e na luta contra a discriminação, no seu interior. A segunda corrente, acreditando na ineficácia dos partidos, distanciam-se destes, contribuindo, como candidatos, de forma limitada, nos momentos de disputas eleitoral.

Em torno da primeira concepção, existe um grupo que desde os primeiros anos do Partido dos Trabalhadores sempre discutiu a questão da discriminação dos afrobrasileiros no interior do Partido. Estes acreditavam que o movimento negro daria ferramenta para a intervenção partidária, de tal forma que, na questão da discriminação contra os afrobrasileiros, o Partido faria os discursos das instituições sociais negras onde militavam.

Nestes quase trinta anos eles criaram comissões, coordenações, coletivos, secretarias, encontros etc. Dentro do Movimento Negro estes militantes sempre foram taxados de tentarem influenciá-lo de acordo com as ordens de “seus capas”, como diziam. Alguns foram mesmo discriminados no interior de algumas entidades, impedidos de assumir Coordenações Municipais ou fazerem parte de Coordenações nacionais, como foi o meu caso.

O segundo segmento acredita que a luta dos afrobrasileiros no interior dos partidos não tem futuro, pois a cultura eurocêntrica dentro destes cria dificuldades a compreensão das questões específicas dos afrobrasileiros. Em consequência, suas participações são pontuais, algumas vezes como candidatos. Mas não participam de construção de comissões, coordenações, coletivos, secretarias, encontros etc. Defendem publicamente que os negros dentro dos partidos e das correntes políticas de alguns partidos são marionetes da ideologia destes.

Com efeito, abstraindo os exageros, as agressões e os lugares comuns de alguns discursos, é forçoso reconhecer que a segunda concepção acerta ao insistir na incapacidade do Partido de encampar demandas especificas dos segmentos numericamente majoritários da sociedade. Este acerto se verifica empiricamente na absorção dos formuladores da segunda concepção em cargos sem expressão política e em posições pouco estratégicas na formulação de políticas públicas.

Prof. Nilo Rosa

quinta-feira, 23 de junho de 2011

O MOVIMENTO NEGRO QUE VI: a crise do movimento negro

A CRISE DO MOVIMENTO NEGRO

Em alguns debates houve-se a afirmação que o Movimento Negro vive uma forte crise. Não somos de acordo. Quando compreendemos o Movimento Negro como o conjunto de entidades e organizações que se dedicam ou dedicam espaços em seu interior para a luta contra a discriminação dos Afrobrasileiros.

Atribui-se a crise a cooptação pelo estado das organizações e de seus militantes. Esta história de cooptação dos movimentos pelos governos ou partidos esquerda é uma incapacidade de enxergar a dinâmica do MN. Sempre houve algum tipo cooptação de em todos os movimentos políticos em graus diferentes, sem que isto pudesse intervir na dinâmica geral destes movimentos.

Para melhor compreensão de nossa posição é preciso destaque que incluímos no movimento negro: organizações culturais, como os blocos afros, organizações, políticas como o MNU, organizações não governamentais que prestam inestimáveis serviços, como as ONGs.

O Movimento Negro vive seu melhor momento. Dezenas de ONG prestando serviços aos necessitados. Espaços institucionais de grande envergadura: Ministérios, Secretarias, Superintendências, todos construídos em decorrência de trabalho sérios dos militantes. Fora deste quadro, temos Ministros Negros, não sem pasta como nos governos da elite cultural conservadora; poderosos secretários de finanças, no caso da Bahia.

No que diz respeito às políticas. Elas abundam. Cotas raciais nas universidades e, agora também, em alguns estados no serviço público; políticas sociais transversais para negros, mulheres, homossexuais; leis diretamente editadas para os afrobrasileiros; políticas de apoio às comunidades quilombolas.

Estas conquistas não foram obtidas da noite para o dia. Nem é o resultado apenas dos últimos dez anos. Ele foram construídas de forma lenta, gradual e segura.

Com efeito, o movimento social, desde o aparecimento do Ilê Aiyê foi, em 1974, passando pela fundação do Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial, em 1978, até chegarmos às poderosas Organizações Não Governamentais; muitas estruturas serão construídas.

No espaço institucional, podemos anotar a Comissão do Negro do Partido dos Trabalhadores em São Paulo, 1982; Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra, 1984 en São Paulo; a Comissão de negros do Partido dos Trabalhadores 1985 no caso da Bahia; o Primeiro Encontro de Negro do Partido dos Trabalhadores em Brasília, em 1986. Desde o inicio dos anos noventa as principais centrais sindicais vem construindo organismo internos para debater a questão racial.

Na academia, começamos com os estudantes negros das universidades paulistas, no final dos anos setenta. Nos anos noventa tivemos o Primeiro SENUM, realizado Faculdade de Arquitetura, na Bahia, marco importante da luta dentro das universidades. Entre 2000 e 2010, tivemos cinco congressos da ABPN. Na Bahia tivemos dois congressos da APNB, o primeiro em 2007 e o segundo em 2009.

Ainda na academia, merece destaque o trabalho do CEAO. Foram 50 anos de proficua produção, que vai redundar na sua transformação em instituto. O CEPAIA vem, desde 1996, construido espaços de produção. Depois desta duas experiencias pioneiras, os NEAB se proliferam por toda academia, procurando integrar os jovens intelectuais negros na produção de conhecimentos em novas bases epistemoligicas.

A legislação progrediu bastante. Assim, da lei Afonso Arinos que nunca puniu nenhum ato de discriminação, passamos pela Lei CAO e a lei 10639/2003, chagando ao estatuto da igualdade racial, tivemos enorme progresso.

Para coroar estas vitórias, colocamos o “Vinte de Novembro” na agenda brasileiro.

Em suma:

Apenas as entidades que se colocam no campo político strictu senso encontram-se efetivamente em crise. As vitórias alcançadas foram frutos de diversas alianças com instituições estatais, que minimizaram a disputa de poder com estas entidades. Por isso, elas perderam o eixo diante das conquistas obtidas pelo rico e diversificado movimento negro. Portanto, encontram-se em crise, procurando unificar, através da criação "organizações políticas" ou mega eventos políticos.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

O MOVIMENTO NEGRO QUE VI

AS INTERVENÇÕES POLÍTICAS NAS LUTAS DOS AFROBRASILEIROS

O Movimento Negro Unificado nasceu em uma época de intensa turbulência política. Embora o Movimento carregasse em si a herança histórica de todas as luta dos afrobrasileiros, ele não ficou imune as influências das correntes políticas que resistiam à violência da ditadura. Assim, desde o início, leninistas-trotskista, leninista-stalinistas e os seguidores de Khrushchev, apos as denúncias deste dos crimes de Stalin, disputaram os rumos da entidade.

Com efeito, alguns dos principais militantes que participaram dos primeiros eventos que iniciou a historia do MNU, estavam ligados as correntes ideológicas ou eram que chamamos hoje de área de influencia. Esta ligação é difícil de decifrar em decorrência da natureza das militâncias políticas num regime de violência política. Por isso, apenas as expressões externas das lutas internas podem dar indicações destas influencias.

Uma prova de intensa luta interna foi à inclusão da palavra “Negro” no nome da entidade. Por mais óbvio que possa parecer para alguns, esta inclusão foi fruto de intensa luta interna. A minha hipótese é que na segunda reunião, quando a palavra foi inserida foi por influência das correntes leninista-stalinistas.

As informações que muitos dispõem, ainda passível de verificação, é que a Convergência Socialista, corrente de base leninistas-trotskista, tinham alguns de seus quadros à frente do movimento. As correntes teleguiadas por Moscou, após Stalin, também enviaram seus militantes para as próximas reuniões.

As correntes stalinistas, acreditando, ainda, fielmente na luta de classes como motor da humanidade, chegaram tarde a este encontro, mas, a partir dos anos oitenta, observa-se entrada de militantes desta orientação no Movimento Negro Unificado, principalmente na Bahia, onde importantes lideranças Negras tinham papel de destaque nestas organizações, principalmente nos trabalhos de base, movimento estudantil

quarta-feira, 15 de junho de 2011

O MOVIMENTO NEGRO QUE VI

O PRIMEIRO CONGRESSO DE PARTIDO DOS TRABALHADORES E A CRITICA AO EUROCENTRISMO.

Como militante da Democracia Socialista, fui chamado pelo "Alto-clero" do Congresso para opinar sobre as questões importantes para os negros do Partido, que poderiam estar na Resolução final. Informei que gostaria que estivesse nestes documentos, uma formulação dos companheiros de um Estado que hoje não relembro mais qual, que fazia uma critica ao eurocentrimso. Sem qualquer dificuldade esta inclusão foi aceita.

No dia seguinte, em reunião dos delegados afro-brasileiros, uma liderança questionou o fato de alguns militantes falarem com a direção do Congresso sem autorização das lideranças negras legitimadas no interior do partido.

Um fato marcante deste Congresso foi a agressão verbal que me foi dirigida por um militante de uma das correntes políticas que estava para ser excluída do partido. Este militante estava embriagado, portanto, no seu perfeito estado de lucidez. Neste estado, ele me interpelou sobre minha posição a respeito da exclusão de algumas correntes, disse-lhe que não tinha posição. Moto continuo, ele meu chamou de militante de merda.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O MOVIMENTO NEGRO QUE VI

1. Comissão de Negros do Partido dos Trabalhadores em Salvador

Em 1985, comecei a participar da Comissão de Negros do Partido dos Trabalhadores, este início foi motivado pela necessidade de participar na campanha para prefeito de Salvador, apoiando o candidato de nosso Partido. A Comissão já se reunia há algum tempo, não fui informado das primeiras reuniões e mesmo quando ela foi criada.

A Comissão se reunia na sede do Partido, na entrada do Tororó, éramos em número variável em torno de cinco, discutíamos atividades, encontros etc. O número variava porque tinhas outras tarefas e fazíamos parte de outras organizações. Eu mesmo, era diretor da Associação de Auditores Fiscais de Salvador.

Nesta comissão, já dava par sentir as divergências entres os grupos. Aparentemente não eram divergências de fundo. Elas se revertiam de divergências pessoais, mas no fundo tinham conteúdos programáticos e metodológicos.

A concepção de uma luta negra fora dos partidos era algo que tinha mais força dentro da Comissão de Negros, apesar de seu paradoxo. Com efeito, participar de uma comissão dentro de uma organização, acreditando que a luta que esta comissão defendia não tinha sucesso neste espaço era uma contradição que aparentemente não despertava a atenção dos poucos membros da comissão. Portanto, o avanço da comissão era um empecilho para esta concepção.

Prof. Nilo Rosa

segunda-feira, 16 de maio de 2011

A verdadeira liberdade esta por vim

A Lei assinada em 13 de maio de 1888 não pós fim a escravidão, como a história oficial insiste em afirmar. A escravidão foi derrotada pelos africanos e afrobrasileiros, ao longo de sua existência. No momento de sua edição pouco mais de 10% dos afrobrasileiros ainda viviam no regime servil, principalmente a serviço dos fazendeiros paulistas. Portanto, a Lei foi apenas um ato formal. Uma mera satisfação à comunidade internacional, por isso nada temos a comemorar. A data de sua edição pode servir para demonstrar a resistência contra a opressão.

De fato, o primeiro negro sequestrado para as terras invadidas pelos portugueses do outro lado do Atlântico começou a lutar pela sua liberdade a sim que desembarcou, nos portos brasileiros, dos navios negreiros, talvez, mesmo ao embarcar nos portos africanos. A República de Palmares é o mais vivo exemplo desta luta.

Palmares sobreviveu por quase 100 anos, derrotando as tropas portuguesas, assim como seus aliados holandeses. Palmares inaugurou a luta dos afrobrasileiros por liberdade, ainda hoje, restringida pelo processo discriminatórios a que estamos, nos afrobrasileiros, submetidos. Portanto, é a data de 20 de novembro que devemos comemorar.

Antes da edição desta lei meramente formal, apelidada de lei áurea, o processo de restrição à liberdade dos afrobrasileiros já estava presente em atos legais dos dirigentes das elites. Um exemplo importante é a famigerada lei 601 de 1850, lei da terra. Esta determinava a propriedade da terra pela compra, e não pela ocupação. Isto porque os afrobrasileiros que derrotavam seus sequestradores ocupavam as terras brasileiras que eram abundantes.

Não podemos esquecer que os africanos sequestrados eram impedidos de frequentar escolas, mesmo quando derrotavam os sequestradores. Muitas foram às leis, durante o período do trabalho compulsório, proibiam aos afrobrasileiros a ocupação de determinados cargos. Sem formação oficial e sem espaço nos trabalhadores mais privilegiadas, os afrobrasileiros construíram importantes atividades comerciais e industriais que eram constantemente perseguidas pelas autoridades públicas, o que os impedia de acumular riqueza.

Após a edição deste diploma, os atos de restrição à liberdade, via processo discriminatório contra os afrobrasileiros, continuaram moldando a sociedade brasileira. Podemos citar o excludente processo eleitoral, após a proclamação da república das elites. O voto censitário impedia a maioria da população, obviamente os afrobrasileiros, de escolher seus representantes e de se candidatarem a cargos políticos. Desta forma, os mais fieis representantes das elites se perpetuavam no poder, distribuindo benesses entre os seus e entre suas regiões.

Impossibilitados, portanto, de ascender ao poder, os afrobrasileiros foram submetidos a um processo de violência física e subjetiva, que ocasionou, a primeira um extermínio de grande parte de sua população e, a segunda, sua autonegação. Com efeito, projeto definido pela elite, no inicio do século vinte, era o desaparecimento do afrobrasileiro no espaço de cem anos, isto foi tentando com a eliminação física de crianças, jovens e adultos. A tentativa de imposição de determinados parâmetros culturais contribui para que muitos negassem suas origens.

Este processo histórico de exclusão objetiva e subjetiva exige da sociedade brasileira, principalmente das elites emergentes, a reparação da espoliação secular a que estamos submetidos. Assim, se ficamos sem terra para cultivar, exigimos políticas compensatórias para recuperá-las; se ficamos sem escolas para estudar, exigimos políticas de discriminação positiva nos aperfeiçoar; se ficamos sem direitos políticos para acessar o poder, exigimos reparação imediata.

Desta forma, conseguiremos a verdadeira liberdade, única capaz de produzir efeitos para toda a sociedade brasileira.

Prof. Nilo Rosa
Presidente

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Reforma Política: uma contribuição ao debate

A reforma política pode ser considerada a mãe de todas as reformas que o Brasil precisa para tirar a maioria de sua população da condição de indigente social e político. Ela proverá a legitimidade dos representantes políticos, necessária para reformas radicais que atingirá, com certeza, os interesses das elites culturais e de seus satélites.
Vamos tecer algumas considerações críticas sobre as propostas quase de consenso dentro de nosso partido.
Atualmente, o sistema brasileiro, teoricamente, comporta financiamento público e privado. O financiamento público se dá pelos fundos partidários, que se constituem com repasses do TSE, bem como pela propaganda eleitoral gratuita nos meios de comunicação, visto que estas são concessões públicas. O financiamento privado pode ser pelos indivíduos e empresas.
Argumentar que o voto em lista pré ordenada vai fortalecer os partidos é esquecer a história de nosso partido que se fortaleceu, não por uma imposição legal, mas sim pela coerência de discurso e de prática. Com efeito, nosso partido, em pouco mais de trinta anos de existência, de maneira quase espetacular, saiu da condição de partido nanico nos anos oitenta, para a condição de partido mais aceito por quase todos os segmentos sociais. Este fortalecimento se deve a que?
Ao mesmo tempo, outros partidos que nasceram grandes, no mesmo período do nosso, já desapareceram ou se transformaram em partidos nanicos. Faltaram-lhes coerência e aproximação com alguma base social. Portanto, nenhum tipo de sistema seria suficiente para fortalecer estes partidos.
Outro argumento falso é de que voto em lista será um voto em partidos programáticos e ideológicos. Será que algum acredita que os partidos deixarão de colocar em posições privilegiadas seus maiores puxadores de votos ou seus parlamentares? Reforçando assim o personalismo destes falsos laureados.
Outros partidos ideológicos, de quadro, mas sem uma real interlocução com sua base social, continuam nanicos. Estes partidos fizeram uma clara opção ideológica; são, portanto, infensos de qualquer fortalecimento que não decorre de luta de classe revolucionária.
A afirmação de que o financiamento privado de campanha está na raiz da corrupção, não leva em consideração que a corrupção no Brasil faz parte de um sistema que discrimina a maior parte da população, impendido que este segmento tenha liberdade para criar riquezas.
O voto proporcional em lista pré ordenada tem mais defeitos que qualidades. Por exemplo, distancia o eleito de seu eleitorado; encarece o processo, na medida em que mantem a disputa eleitoral em imensos espaços geográficos de campanha e impede o aparecimento de novas lideranças, submetidas ao controle das cúpulas partidárias.
No Terceiro Congresso de Nosso Partido, em 2007, a proposta de reforma política, pela sua importância, vinha vinculada a exigência de uma Assembléia Constituinte Exclusiva. De 2007 para cá, o que é que mudou? Para passarmos da exigência de um amplo debate, à decisão do Diretório Nacional de nosso Partido, pelo voto em lista pré ordenada.
O sistema atual na prática, ao menos na Bahia na eleição de 2010, já pode ser considerado de lista pré ordenada e de financiamento público. A cúpula partidária escolheu os candidatos que seriam eleitos e, estes ocuparam a quase totalidade do espaço público da televisão, e, provavelmente, o fundo partidário. Estamos, portanto, lutando pelo “status quo”.
Neste sentido, podemos qualificar a proposta de nosso partido como uma proposta conservadora, pois ela apenas oficializa o “modus operandi” atual do processo político. Isto é, os candidatos a serem eleitos são os escolhidos pela “cúpula partidária”, e o financiamento é público, pelo dinheiro que as empreiteiras, os publicitários vão superfaturar nos contratos com os governos.
Conclamamos, portanto, o conjunto do partido para um profundo debate, tendo a realidade brasileira como parâmetro para uma reforma política, que seja capaz de produzir justiça social com equidade.

Salvador, 11 de maio 2011
Nilo Rosa

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Por uma energia limpa

Há vinte e cinco anos, o mundo assombrou-se com o desastre nuclear de Chernobyl, hoje dormimos amedrontados com um desfecho catastrófico em Fukushima, até quando ?! Neste momento desta triste aniversário, estamos surpresos pelo silêncio daqueles que sempre lutaram pelo mundo melhor.
Precisamos condenar o uso da energia nuclear. Precisamos lutar por uma energia limpa, que garanta um mundo mais seguro.
Neste momento, os europeus começam a se inquietar com uma possível desgraça em suas velhas usinas nucleares. Mas alguns dos antigos batalhadores por um mundo melhor, hoje, defendem este tipo de energia.
É hora de voltarmos às ruas.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Prof. Nilo Rosa assume a Coordenação de Imprensa e Comunicação do MNU

No sábado, dia 16 de abril, a Assembléia Municipal do Movimento Negro Unificado escolheu seus novos dirigentes para o biênio 2011/2013. O Prof. Nilo Rosa, que dirigiu nos últimos anos a entidade em Salvador, empossou o Companheiro Cal Bulhosa na Coordenação.

terça-feira, 12 de abril de 2011

O Militante Universitário Negro e O MN nos anos 90

No início dos anos noventa, um conjunto de militantes negros do movimento estudantil/político partidário entra em alguns partidos políticos de esquerda. Esta movimentação vai mudar profundamente a face do MN, ao menos na Bahia. Atuando duplamente no MN estudantil, onde eram excluídos do debate em dentro dos fóruns político estudantis, estes estudantes vão trazer o necessário debate de intervenção na academia com o discurso dos afrobrasileiros discriminados.
Os militantes no MN tradicionais defendiam ainda a desnecessidade de participação partidária, seja ela orgânica – participação em diretórios, tendências (caso do PT), ou como simples filiados. Para els "os partidos não eram necessários, pois discutiam temáticas cara apenas aos 'brancos' que os hegemonizavam". Esta compreensão estava baseada na idéia de que não havia necessidade de instituições de intermediação entre a população e o Estado, muito próxima de alguns pensamentos da Europa dos anos 30/40 e de algumas sociedades tradicionais africanas.
Portanto, não se pode falar de migração do MN para os partidos.

Nilo Rosa

quinta-feira, 31 de março de 2011

Enfim, uma empresa privada com dinheiro do povo

A grande Vale, nada mais é que uma empresa privada com capitais público. O governo destitui o "boss", que nada mais faz do que vender minerio de ferro barato para a China.

terça-feira, 29 de março de 2011

O desemprego: fenomeno social ou economico

Uma pesquisadora nos questionou sobre o que pensamos do desemprego. Argumentei que este não pode ser visto apenas como uma questão econômica. Causas sociais, culturais, politicas etc., são importantes para configurarmos um quadro de desemprego cronico como é o cado brasileiro.