terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Cultura da paralisia

 

O associativismo é uma atividade nobre nas sociedades modernas. É um ato de voluntarismo cidadã, implicando no compromisso do indivíduo com causas que lhes são caras. Em um país como o brasil, onde a ausência de cidadania é notória, o associativismo é sempre dificultado e, algumas vezes, punido.

Em alguns países o associativismo é incentivado e muitas vezes premiado. Na França, por exemplo, existe a Lei 1901, comemorada em 2001 cem anos até com menção presidencial. Evidentemente, são países nos quais a cidadania é a razão do Estado. Em casos como o do Brasil, onde, como diz o poeta “ninguém é cidadão”, esta atividade é comparada a uma atividade empresarial, devendo ser registra em cartório.

Esta condição cria responsabilidades cartoriais, fiscais, tributárias que recaem sobre os responsáveis, aqueles que constam nos registros cartoriais como responsáveis, principalmente seu dirigente máximo. Por isto, cabe a este último as decisões que podem fazer avançar os objetivos da associação. 

Os objetivos de uma associação contrariam interesses de muitos outras atores e organizações. Dentre muitas associações contrariadas destacamos os Estados autoritários e aqueles hegemonizado pela cultura de ódio ao “Outro”. Para o Estado as dificuldades são colocadas pelos seus agentes públicos, em nosso caso os cartórios e suas exigências absurdas. Vimos no passado, como o Estado agia com violência para impedir o funcionamento das religiões de matriz africana.

Para outros agentes, as dificuldades de funcionamento são colocadas através de expedientes diversos. Por exemplo, uma pratica bastante comum é a desqualificação dos “adversários” internos. A tentativa de marginalização destes adversários, atribuindo-lhes interesses ideológicos ilegítimos. 

Os interesses ideológicos legítimos de atores são muitas vezes camuflados em atitudes condenáveis e quase sempre inconfessáveis. Por exemplo, o caso de organizações do Movimento Negro, onde militantes de organizações marxistas-stalinistas atuavam desfigurando-as. Estas pessoas são contra determinadas ações em razão de seus interesses conflitarem com os interesses destas atividades por isso fazem tudo que podem fazer para evitar a ação destas organizações.

As organizações negras tradicionais, principalmente as religiosas e as culturais trazem um modelo centralizado na autoridade da liderança. Aquelas que tentam copiar o modelo judaico/cristão sofrem com mais frequência as consequências danosas dos interesses conflitantes inconfessáveis. Faz-se urgente um profundo debate da intelectualidade negra a respeito deste paradoxo. 

Portanto, é fundamental que nós intelectuais negros enfrentemos o desafio dos Estados como acima caracterizados e, acima de tudo, explicitando as contradições ideológicas dentro nossas organizações. Em resumo, sem vencermos estes dois obstáculos nossas organizações ficaram eternamente paralisadas.