sexta-feira, 25 de julho de 2025

Ação e reação: o inicio do fracasso

 Os anos setenta foram períodos de profunda instabilidade política. A ditatura civil/militar, chegada ao poder na década passado, tinha esgotado seu arsenal de crueldade – dizem os poetas: “de muito usada a faca já não corta” - e fora abandonada pelos seus aliados no exterior. A economia claudicava pelo esgotamento do modelo “Prafrente brasil” caracterizado pelo tripé do endividamento externo, capital estatal e o capital privado nacional. A desarmonia destes três agentes foi a senha para o fim do milagre.

Em consequência desta instabilidade diversos grupos recomeçaram a se organizar politicamente. Assim, conservadores e reformistas consolidaram em seus partidos em oposição aos militares, que não percebiam a ineficácia política, econômica e social de seus métodos. O “bipartidarismo”, camisa de forço imposta pelos ditadores, não cabia mais no jogo político. Os conservadores conseguiam manter sua unidade em razão das benesses que ainda recebiam do poder que ajudaram a usurpar. Os reformistas, rachados na base, nas paredes e no teto, travavam uma guerra intestina entre seus diversos seguimentos.

Impedidas de existirem enquanto partido e atuarem nas organizações classistas as exóticas ideologias eurocêntricas atuavam em diversos segmentos sociais. Infiltrados, seus militantes vestiam qualquer camisa para difundir tais exóticas teses. Assim, na clandestinidade podiam agir quase livremente.

A luta contra o racismo não estava excluída desta contenda. O surgimento do Ile Aiyê em 1974 fora o divisor de águas. Jovens negros do bairro mais afro-brasileiro do Brasil insurgiram-se contra a racismo na “terra do negro doutor”. Os representantes dos conservadores na mídia denunciam o “espetáculo do terror”. A cultura negra começa a abrir seu caminho como forma de luta política.

A reação dos reformistas não demorou a se manifestar. Seus satélites de forma revolucionaria, colocaram nas escadarias seu grito de protesto em uma luta que pretendia unificar todos os discriminados. Assim, nascia o MUCDR, uma reação politico/partidária paulista a insurgência politico/cultura de jovens baianos.

A ideia revolucionaria de unir todos os oprimidos se transformou no fiasco já na segunda reunião, quando os stalinistas reduziram a revolução num campo de refugiados negros ao transformar o MUCDR em Movimento Negro Contra a Discriminação Racial, o hoje MNU.

Estes dividiram o Movimento em fração estadual. Com efeito, não existe uma organização nacional e sim organizações estaduais submetidas a uma coordenação nacional sem poder político. Este movimento foi seguido de deslocamento de quadros para as seções mais estratégicas. Nestas seções os quadros atuavam tanto no partido quanto no movimento. Mas as decisões decisivas eram tomadas dentro do partido.

Podemos concluir, portanto, que, com a chegada do Ile Aiyê, a Cultura se colocava como propositora no processo político, a luta foi manipulada e metamorfoseada em objeto de promoção individual.

 

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Ideologia e oportunismo

 

As Elites culturais conservadoras e os liberais civilizados, estão em um insolúvel conflito com os irmãos metralhas e o “bob pai”.

O agrupamento oportunista que chamamos centrão não se pode se confundir com o que chamamos de intelectuais civilizados. Os primeiros estão somente através de vantagens pessoais, já o segundo é fruto da modernidade ocidental. O centrão fala em democracia e liberdade, mas observam as desigualdades entre os diversos seguimentos sociais. Já os segundo tem claramente a visão de que esta desigualdade é fruto de um projeto social. Portanto, existe uma distância quilométrica entre os dois.

O Centrão é um conjunto de políticos de diversos partidos das elites culturais que são financiados por grandes e pequenos empresários e por nós através desta excrecência que se chama fundo partidário, logo são instrumentos destes segmentos empresariais - conservadores, majoritariamente e reformistas. Lá no parlamento, aprovam os projetos que interessam a estes grupos. Evidentemente, alguns se corrompem, mais isto não me interessa, pois tenho uma concepção muito particular do que é corrupção. Nada mais é do que instrumento do “capitalismo periférico”.

Liberalismo, seja econômica, político e social é uma doutrina muito séria, assim como o cristianismo, comunismo, socialismo etc. Podemos e, devemos, discordar mas são doutrinas que determinaram a lógica do ocidente cristão. O problema é que a base filosófica destra doutrina é o iluminismo, este essencialmente racista. É isto que quero enfatizar nos liberais civilizados do terceiro mundo. Enfim, é isto que nós intelectuais insurgentes deveríamos estar aprofundando.

Se um ministro liberal “cai ou não cai”, ninguém pode saber. A instabilidade política no país é tão grande que qualquer coisa pode acontecer. Não existe análise política que possa prever a queda de um liberal terceiro-mundista. Esta possibilidade só existe quando a analise entra no campo ético ou moral.

Em resumo, oportunismo político e liberalismo civilizados são frutos da mesma árvore, mas o primeiro já nasce podre.