As cidades brasileiras, principalmente as capitais, necessitam urgentemente reformas urbanas corajosas. Entretanto, apesar das repetidas tragédias, estas reformas não são colocadas na ordem do dia das decisões políticas. A tragédia do Morro do Bumba parece a crônica da tragédia anunciada que pode ocorrer em outras cidades. Os dirigentes se preocupam em fazer grandes pontes, monumentais centros administrativos, imensas vias expressas, alegando que estão dotando a cidade de infraestrutura. Estes empreendimentos têm em comum apenas as grandes somas que são carreadas para os mesmos grupos econômicos. Enquanto estes se enriquecem com tais obras, aqueles que afirmam seriam os beneficiados equilibram-se em encostas, apertam-se em insalubres invasões.
Os favelados, os invasores e os mocambeiros também têm algo em comum são todos regularmente discriminados. Esta discriminação impede que os políticos, que eles ajudam a eleger, dêem atenção às suas dificuldades. Elas impedem também que os habitantes destas comunidades encontrem formas de gerar renda que podem livrá-los da tragédia anunciada. Como diz o samba enredo da Mangueira de 1988, “Livre do açoite da senzala Preso na miséria da favela”. Está prisão reflete efetivamente a falta de liberdade que o sambista sente que falta ao povo de quem e para quem ele versa.
É preciso discutir com estes prisioneiros as formas de destruir os muros invisíveis desta prisão. Enquanto favelados, invasores ou mocambeiros, eles são invisíveis em suas dificuldades, esta invisibilidade só é rompida nos momentos que ela começa a incomodar. É o caso dos momentos das tragédias, que repercutem internacionalmente e forçam as autoridades a dar explicações para assegura a realização dos grandes eventos internacionais. Passadas e esquecidas estas tragédias, voltam a ser inocentes fantasmas.
Somente com o fim dos grilhões subjetivos, será possível construir espaços humanamente dignos para viver, e assim ficar livre das tragédias anunciadas e ao mesmo tempo impedir o enriquecimento dos descendentes dos feitores.
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