terça-feira, 16 de agosto de 2011

O MOVIMENTO NEGRO QUE VI

5. LUTAS POLÍTICAS: duas concepções

As concepções de luta política contra a discriminação dos afrobrasileiros talvez sejam tão numerosas quantos as línguas faladas em nossa África. Mas vamos nos deter em duas que se afrontam dentro do Partido dos Trabalhadores.
A primeira preconiza que dentro dos partidos se pode conceber muitos avanços na luta contra a discriminação dos afrobrasileiros. A segunda preconiza que os partidos utilizam-se dos militantes negros para carregar suas bandeiras. Esta concepção esta baseada na desnecessidade da intermediação entre o cidadão e o poder, por isso o desprezo pelas instituições partidárias.

Os defensores da primeira concepção, por consequência, se engajaram fortemente na construção do Partido e na luta contra a discriminação, no seu interior. A segunda corrente, acreditando na ineficácia dos partidos, distanciam-se destes, contribuindo, como candidatos, de forma limitada, nos momentos de disputas eleitoral.

Em torno da primeira concepção, existe um grupo que desde os primeiros anos do Partido dos Trabalhadores sempre discutiu a questão da discriminação dos afrobrasileiros no interior do Partido. Estes acreditavam que o movimento negro daria ferramenta para a intervenção partidária, de tal forma que, na questão da discriminação contra os afrobrasileiros, o Partido faria os discursos das instituições sociais negras onde militavam.

Nestes quase trinta anos eles criaram comissões, coordenações, coletivos, secretarias, encontros etc. Dentro do Movimento Negro estes militantes sempre foram taxados de tentarem influenciá-lo de acordo com as ordens de “seus capas”, como diziam. Alguns foram mesmo discriminados no interior de algumas entidades, impedidos de assumir Coordenações Municipais ou fazerem parte de Coordenações nacionais, como foi o meu caso.

O segundo segmento acredita que a luta dos afrobrasileiros no interior dos partidos não tem futuro, pois a cultura eurocêntrica dentro destes cria dificuldades a compreensão das questões específicas dos afrobrasileiros. Em consequência, suas participações são pontuais, algumas vezes como candidatos. Mas não participam de construção de comissões, coordenações, coletivos, secretarias, encontros etc. Defendem publicamente que os negros dentro dos partidos e das correntes políticas de alguns partidos são marionetes da ideologia destes.

Com efeito, abstraindo os exageros, as agressões e os lugares comuns de alguns discursos, é forçoso reconhecer que a segunda concepção acerta ao insistir na incapacidade do Partido de encampar demandas especificas dos segmentos numericamente majoritários da sociedade. Este acerto se verifica empiricamente na absorção dos formuladores da segunda concepção em cargos sem expressão política e em posições pouco estratégicas na formulação de políticas públicas.

Prof. Nilo Rosa

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