quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

A contribuição dos intelectuais negros ao processo político



Estamos em uma crise de paradigma, não que os paradigmas não estejam dando resultado onde eles se originaram, e sim,  porque eles se esgotaram nas sociedades colonizadas, por falta de resultado. No entanto, as elites culturais insistem em impor seus modelos, principalmente no campo da ciência e tecnologia. Isto pode ser facilmente observado no funcionamento da produção de conhecimento no Brasil.
A estrutura da produção de ciência e tecnologia é inadequado para nossa realidade. Poucas universidades, em algumas regiões, concentram a maior parte dos cursos de pós-graduação, das universidades públicas, e, consequentemente das bolsas. Isto é consequência de um sistema de financiamento sem transparência e por isso, ineficaz, que aloca a maioria dos recursos em alguns centros. Por isso, somos os últimos na produção de ciência e tecnologia. Portanto, é imperativo que esta estrutura seja desconstruída.
A possibilidade de construção de outra estrutura teve importante contribuição do movimento negro. Lei 10.639/2003 e as politicas de ações afirmativas são dois exemplos. Entretanto, a primeira não consegue se implantar e a segunda, apesar de implantada em importantes universidades, precisa avançar, por exemplo a criação de cotas para concurso para professor universitários sofre resistência das elites culturais nas universidades. Elas podem levar a uma nova leitura cultural da sociedade na superestrutura de poder.
A Bahia, por conveniências políticas mais do que de produção de conhecimento, interiorizou as universidades, sem contudo integrá-las em qualquer projeto. A Federação, hegemonizadas pelos interesses das elites culturais sudestinas, atrasou o quanto pode a criação de universidades no Nordeste, a Bahia durante décadas abrigou apenas uma universidade federal. Embora timidamente implantadas, as três novas universidades que podem reequilibrar a estrutura conservadora, carecem dos recursos necessários até para a contratação de professores.
No momento, vivemos uma crise com um viés político e econômico que pode levar a uma crise social. A solução para esta é buscada no retrocesso de alguns tímidos avanços. Assim, a redução do financiamento do Fies, o cortes nos recursos orçamentários destinados ao ensino superior e o rígido controle de algumas conquistas sociais agravam as injustiças na sociedade. A resposta a estes ataques só podem vir da mobilização social, principalmente dos pesquisadores negros.
As greves nas universidades são consequências da falta de prioridade para o sistema de ciência e tecnologia, seja no nível regional ou no federal. Mas elas não conseguem identificar a lógica de dominação presente em sua gênese. A crença na polaridade da disputa, impede a visão da “centralidade da cultura” no processo de luta política. A engajamento dos intelectuais negos neste processo poderia adicionar a qualidade necessária.
Os intelectuais negros precisam transformar a violência contra a juventude negra em um fato político, contrapondo-o ao olhar das elites culturais que insistem e conseguem enquadrá-lo como fato policial. Anualmente milhares de jovens negros são assassinados, de tal forma que pode-se configurar como uma tentativa de genocídio. No entanto, este crime contra humanidade é percebido como uma ação apenas policial, tristemente associado a lógica do futebol, por autoridades política a busca de legitimidade.

Podemos assim concluir que há um necessidade de comunicação e diálogo entre os intelectuais negros. A contribuição dos intelectuais negros não consegue construir um diálogo na medida que não dispõe de instrumentos que os façam insurgir no debate ideológico, apesar do criativo e inovador de suas ideias.

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