sexta-feira, 10 de julho de 2020

Da formalidade econômica à criminalidade acadêmica.



              Veremos como as sofisticadas estruturas de discriminação montadas pelas elites atingem mestres, doutores ricos ou pobres, desde que sejam “negões”. Veremos também que estes podem até subir na formalidade econômica, mas terão que fraudar a formalidade acadêmica.
O negão caiu em! Mas aqui pra nós o “Lattes" e  "Qualis", são instrumentos de controle acadêmico que devem ser visto pelos pesquisadores negros do "ponto de vista racial". Isto porque, independentemente da forma de avaliação de nossa produção cientifica está na rabeira do “mundo civilizado”.
O caso do “negao quase ministro” deve ser analisado dentro de uma análise estrutural e não de uma análise conjuntural como o caso de Teich, Damares e Salles, dentre muitos casos de falsidade ideológica. Estes tinham vários requisitos para lograr uma pós-graduação. Ao nosso negão faltava o básico.

Este é um bom momento para discutir estes instrumentos de estruturação  da produção de conhecimento. É um bom momento porque os olhos estão voltados para um Afro-brasileiro que ousou usar alguns destes instrumentos de forma fraudulenta para seu benefício privado. No entanto, ele não floreou seu “lattes” para virar ministro, mas para se qualificar academicamente para seus negócios. Sua identidade ideológica com o grupo de poder é que o levou ao ministério, acredito, antes que desse tempo de uma “higienização” de curriculum na Plataforma Lattes.

O “lattes” é uma plataforma que guarda todos os curriculum dos pesquisadores.  O “qualis” é o sistema federal para a classificação livros, revistas etc. utilizados para a divulgação dos trabalhos acadêmicos. O  “Quallis” e o “Lattes”  são determinantes para a autorização e para funcionamento de cursos de pos-graduação. 

Quantas vezes ouvimos boatos de lattes reeditados para propósitos no mínimo discutíveis. Sendo a plataforma de fácil manuseio nas suas funções básicas, qualquer pesquisador pode incluir ou excluir alguém ou algo se assim o interessa. O que não deu tempo a nosso “incauto negão”.

E até mesmo, quantas vezes vimos extenso lattes serem desprezados por medíocres memoriais em uma disputa de vaga acadêmica. Lattes, provas e aulas estarão sempre submetidos aos critérios subjetivos dos intelectuais das elites culturais e de seus satélites.

Quantos de nós pesquisadores negros já vimos “lattes” de outros pesquisadores turbinados. Alguns são feitos com técnica tão apurado que até uma transposição de fronteira pode ser registrada e fazer a diferença em algumas competições acadêmicas. Assim, navega-se por dezenas de paginas de repetição.

Portanto não é com base nas flores colocadas nesta plataforma que vamos analisar o caso de “nosso negão” quase ministro. Assim, vamos tirar nosso negão da criminalidade acadêmica e colocá-lo na formalidade econômica, bem ao lado da maioria de seus irmãos pretos.

A questão é mais bem compreendida quando olhamos o principal instrumento de racismo epistemológico na produção de conhecimento entre nós. Com efeito, o “qualis” presta um papel fundamental no controle da produção de conhecimento.

Alguns “intelectuais” publicam em revistas de áreas de conhecimento diferente, com títulos diferentes – as vezes até a introdução difere. Este “abrakadabra” torna-os imbatíveis nas disputas pelos editais, ficando seus lattes e suas publicações altamente “qualificadas”.

A produção de qualidade encontra-se no qualis, “caixa branca” de difícil acesso para os mortais. Lá descobrimos um interessante critério de classificação, qual seja a produção endogâmica e a produção exogâmica. Este é um primor de discriminação, pois a qualidade não conta e sim o lugar geográfico.

A endogenia e a exogenia devem ser vistas como uma espécie de eugenia epistemológica, pois contribuem fortemente para criar e perpetuar a ciência eurocêntrica que nos imobiliza. Estas duas categorias de exclusão são abusiva e impunemente usadas para perpetuar as desigualdades raciais nas pesquisas entre nós. Este talvez seja o principal instrumento responsável pela imensa assimetria entre o “sul maravilha” e as demais regiões no que diz respeito a número de cursos de pós-graduação e a quantidade de bolsas distribuídas.

Entretanto, nem tudo está perdido. O último relatório da CAPES propõe, pura e simplesmente, a extinção do “qualis”. É evidente que os intelectuais das elites culturais resistirão bravamente, salvo se for substituído por algum controle racista mais singelo.

Dentro desta estrutura, estreita-se as oportunidades de formação acadêmica de nosso “negão”, por isso este teve que partir para a informalidade ou marginalidade acadêmicas, como vem os intelectuais das elites culturais. O negao “vende caixa” pra ganhar dinheiro, por isso não tem tempo para construir um grande lattes e uma produção que possa ir para o qualis. Assim a alternativa foi ganhar dinheiro na formalidade econômica e ficar na criminosa informalidade acadêmica.

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