Veremos
como as sofisticadas estruturas de discriminação montadas pelas elites atingem
mestres, doutores ricos ou pobres, desde que sejam “negões”. Veremos também que
estes podem até subir na formalidade econômica, mas terão que fraudar a
formalidade acadêmica.
O negão caiu em! Mas aqui pra nós o “Lattes" e "Qualis", são instrumentos de
controle acadêmico que devem ser visto pelos pesquisadores negros do
"ponto de vista racial". Isto porque, independentemente da forma de avaliação
de nossa produção cientifica está na rabeira do “mundo civilizado”.
O caso do “negao quase ministro” deve ser analisado dentro de
uma análise estrutural e não de uma análise conjuntural como o caso de Teich, Damares e Salles, dentre muitos
casos de falsidade ideológica. Estes tinham vários requisitos para lograr uma pós-graduação.
Ao nosso negão faltava o básico.
Este é um bom momento para
discutir estes instrumentos de estruturação da produção de conhecimento. É um bom momento
porque os olhos estão voltados para um Afro-brasileiro que ousou usar alguns
destes instrumentos de forma fraudulenta para seu benefício privado. No
entanto, ele não floreou seu “lattes”
para virar ministro, mas para se qualificar academicamente para seus negócios. Sua identidade
ideológica com o grupo de poder é que o levou ao ministério, acredito, antes
que desse tempo de uma “higienização” de curriculum na Plataforma Lattes.
O “lattes” é uma plataforma que guarda todos os curriculum
dos pesquisadores. O “qualis” é o
sistema federal para a
classificação livros, revistas etc. utilizados para a divulgação dos trabalhos
acadêmicos. O “Quallis” e o
“Lattes” são determinantes para a
autorização e para funcionamento de cursos de pos-graduação.
Quantas vezes ouvimos boatos de
lattes reeditados para propósitos no mínimo discutíveis. Sendo a plataforma de
fácil manuseio nas suas funções básicas, qualquer pesquisador pode incluir ou
excluir alguém ou algo se assim o interessa. O que não deu tempo a nosso “incauto
negão”.
E até mesmo, quantas vezes vimos extenso
lattes serem desprezados por medíocres memoriais em uma disputa de vaga
acadêmica. Lattes, provas e aulas estarão sempre submetidos aos critérios
subjetivos dos intelectuais das elites culturais e de seus satélites.
Quantos de nós pesquisadores
negros já vimos “lattes” de outros pesquisadores turbinados. Alguns são feitos
com técnica tão apurado que até uma transposição de fronteira pode ser
registrada e fazer a diferença em algumas competições acadêmicas. Assim,
navega-se por dezenas de paginas de repetição.
Portanto não é com base nas flores colocadas nesta plataforma
que vamos analisar o caso de “nosso negão” quase ministro. Assim, vamos tirar
nosso negão da criminalidade acadêmica e colocá-lo na formalidade econômica, bem
ao lado da maioria de seus irmãos pretos.
A questão é mais bem compreendida quando olhamos o principal
instrumento de racismo epistemológico na produção de conhecimento entre nós. Com
efeito, o “qualis” presta um papel fundamental no controle da produção de
conhecimento.
Alguns “intelectuais” publicam em revistas de áreas de
conhecimento diferente, com títulos diferentes – as vezes até a introdução
difere. Este “abrakadabra” torna-os imbatíveis nas disputas pelos
editais, ficando seus lattes e suas publicações altamente “qualificadas”.
A produção de qualidade encontra-se no qualis, “caixa branca”
de difícil acesso para os mortais. Lá descobrimos um interessante critério de
classificação, qual seja a produção endogâmica e a produção exogâmica. Este é um primor de discriminação,
pois a qualidade não conta e sim o lugar geográfico.
A endogenia
e a exogenia devem
ser vistas como uma espécie de eugenia epistemológica, pois contribuem
fortemente para criar e perpetuar a ciência eurocêntrica que nos imobiliza.
Estas duas categorias de exclusão são abusiva e impunemente usadas para
perpetuar as desigualdades raciais nas pesquisas entre nós. Este talvez seja o
principal instrumento responsável pela imensa assimetria entre o “sul maravilha”
e as demais regiões no que diz respeito a número de cursos de pós-graduação
e a quantidade de bolsas distribuídas.
Entretanto, nem tudo está
perdido. O último relatório da CAPES propõe, pura e simplesmente, a extinção do
“qualis”. É evidente que os intelectuais das elites culturais resistirão
bravamente, salvo se for substituído por algum controle racista mais singelo.
Dentro desta estrutura, estreita-se
as oportunidades de formação acadêmica de nosso “negão”, por isso este teve que
partir para a informalidade ou marginalidade acadêmicas, como vem os
intelectuais das elites culturais. O negao “vende caixa” pra
ganhar dinheiro, por isso não tem tempo para construir um grande lattes e uma
produção que possa ir para o qualis. Assim a alternativa foi ganhar dinheiro na
formalidade econômica e ficar na criminosa informalidade acadêmica.
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