quarta-feira, 19 de maio de 2010

ABPN e o diálogo com as Associações Regionais

ABPN e o diálogo com as Associações Regionais – O que fazer para mantermos a unidade na diversidade?

Não é concedendo bolsas de pesquisa, tirando dos competentes e dando aos incompetentes... Se você quer investir em ciência no Nordeste, você está colocando capim na frente dos bois .
Ministro Bresser Pereira da Ciência e Tecnologia.


Os povos que tiveram na vanguarda da hegemonia mundial foram aqueles que criaram e dominaram as tecnologias de sua época. Foi assim com os portugueses e espanhóis na época dos descobrimentos com o domínio da tecnologia marítima; foi assim com os ingleses; no domínio da tecnologia industrial e esta sendo assim com os americanos, os alemães e os japoneses no domínio da economia da informação. Infelizmente, nosso país não tem tido preocupação em se inserir nesta lógica. Esta conclusão decorre da falta de debate da nossa pior crise: A crise de produção de ciência e tecnológica.
De fato, somos um dos últimos na produção de ciência e tecnologia, embora estejamos bem colocados no cenário econômico. Por exemplo, nossas melhores universidades ocupam locais humilhantes nos principais “ranking”. Como conseqüência direta, somos exportadores de matéria prima. Por isso, corremos o risco de voltar aos tempos do Brasil colonia.
A ABPN pode ter um papel importante no debate para mudar esta realidade, pois é a falta de concorrência, principalmente pelo afastamento dos negros da produção de ciência e tecnologia, a principal causa deste atraso. Os recursos são excessivamente concentrados em determinadas regiões.
A ABPN é a mais importante realidade no mundo acadêmico no Brasil nos últimos dez anos. Digo isto sem medo de ser exagerado, pois no momento em que comemoramos dez anos temos, também podemos comemorar os cinco congressos feitos por nossa conta e risco.
Os congressos realizados demonstraram a capacidade de produção das pesquisadoras e dos pesquisadores negr@s. Nos anais produzidos estão estudos, artigos e pesquisas que tratam de diversos temas de interesse de toda a sociedade brasileira. É uma produção que encontra pouco espaço de expressão.
Toda esta produção passou quase a margem da academia “chapa branca”, aquelas que recebem polpudas verbas das agências de fomento. Aquelas que realizam eventos em balneários para incensar os iniciados das “grandes” universidades que abocanham quase 80% dos recursos destinados a pesquisas, ciência e tecnologia no Brasil, e, no entanto, não estão tão bem colocados no cenário mundial.
O atraso tecnológico do Brasil deve ser atribuído à esta absurda concentração de recursos em algumas regiões do país. Este debate deve estar presente no dia a dia de nossa ABPN. Sobretudo porque é o pesquisador negro a principal vítima desta concentração “subjetivamente” vinculada ao mérito de determinadas academias.
A consolidação da ABPN vem sendo um processo longo que tomou um fôlego surpreendente na atual gestão. Colocar uma página no ar, manter dialogo direto com os pesquisadores, estabelecer parcerias com agências de financiamento estrangeiras foi sem dúvida determinante para esta consolidação. A articulação destas atividades com um projeto nacional de apoio aos Pesquisadores é o passo lógico e conseqüente. Portanto, é com as associações estaduais que a nossa Associação de se articular.
Entretanto, nos falta criar e consolidar as abpns estaduais. Sem associações estaduais fortes não teremos uma associação nacional forte. A necessidade de criar associações estaduais está no fato de que as pesquisas são feitas nos estados. Outro aspecto é que todos os estados têm agências de financiamento de pesquisa e de projetos.
A consolidação da APNB passa obrigatoriamente pelo seu relacionamento, não só com os pesquisadores negros, através das associações estaduais, como acima sugeridas, mas também pelo seu relacionamento com organizações da sociedade civil com história de luta política diretamente relacionada a luta contra discriminação. Neste sentido, faz-se urgente a criação de um conselho consultivo e social.
O modelo de apenas uma associação nacional repete o modelo dos “dinossauros” sindicatos de pesquisadores transvestidos em associações nacionais, sem qualquer vínculo nos estados. O distanciamento destes “sindicatos” da sociedade, o enclausuram numa lógica meramente academicista. Devemos no distanciar desta lógica. Neste sentido, a ABPN pode inovar e ser efetivamente a representante nacional de pulsantes associações estaduais.
Nossa associação é pluridiciplinar, por isso modelos como anpocs, anped, anpol etc. não capazes de contribuir com nossa consolidação e crescimento. Estas associações são ligadas a cursos as universidades e a cursos de posgraduação o que não e nosso caso. Para suprir esta distancia das universidades, seria importante termos vínculos formais com os Neabs.
A possibilidade da existência de associações estaduais constituirá uma grande vitoria dos pesquisadores negros, mas trará problemas sérios, seja do ponto de vista político, seja do ponto de vista financeiro, seja do ponto de vista jurídico.
Politicamente, vamos nos deparar com a questão da representatividade. Financeiramente, teremos que resolver quem fica com a contribuição, caso esta exista. Ou seja, ficaremos filiados à nacional ou as estaduais. Juridicamente temos que alterar nossos estatutos. Para isso é necessário discutir novas formulações jurídicas.

A experiência da Associação de Pesquisadores Negros da Bahia - APNB
A APNB mantém um relacionamento cordial e político com a Associação Nacional (ABPN). Este relacionamento deve evoluir para o jurídico e o financeiro, tendo em vista atualmente ele se dá em caráter pessoal. Nossas relações deve estar vinculadas em nossos estatutos
Olhando da perspectiva da APNB, podemos vislumbrar as dificuldades de nossa Nacional. A fundação da APNB foi um trabalho difícil, mas foi importante para a realização do IV COPENE. O processo de consolidação da APNB continua com a realização de dois congressos.
A realização, em novembro de 2007, do Primeiro Congresso Baiano de Pesquisadores Negros – I CBPN foi um importante trabalho da primeira diretoria. Reunimos quase 400 pesquisadores na Universidade Federal da Bahia. O Segundo Congresso Baiano de Pesquisadores Negros realizado em setembro de 2009 na Universidade Estadual de Feira de Santana contou com a participação de mais 500 pesquisadores.
Estes números revelam a enorme demanda de espaço acadêmico para os pesquisadores negros exporem suas pesquisas. Se multiplicássemos por vinte ou vinte e cinco estados teríamos, talvez a maior produção acadêmica deste país. Portanto, deveríamos promover mais eventos, estaduais, regionais e nacionais.
Tenho defendido nas reuniões da APNB que as filiações se dêem no âmbito estadual. Não defendo o pagamento de mensalidade ou anuidade. As arrecadações devem ser contra partida de serviços e/ou atividades desenvolvidas pela associação. Por exemplo, a edição e venda de uma revista impressa. Além destes recursos, devemos elaborar projetos juntos as agências estaduais e nacionais de fomento.
A ABPN deve ser uma fomentadora das associações estaduais. Para isto, deve, a partir de cada Congresso, reunir os pesquisadores de cada estado, propondo um cronograma de encontros estaduais e regionais.
Fortes associações regionais podem e vão fazer pressão para a desconcentração os recursos de ciência e tecnologia. Não esqueçamos que é nas áreas onde se concentra a maioria dos pesquisadores negros que as verbas de pesquisas são mais escassez.
A ABPN e suas associadas podem ter um papel decisivo na mais importante reforma que necessita nosso país, qual seja a reforma do sistema de pesquisa. Precisamos tomar a dianteira, não só denunciando a atual situação, mas e, acima de tudo propondo um modelo que aponte na desconcentração e na democratização dos recursos públicos e privados destinados a este segmento.
Estas contribuições têm como objetivo abrir o debate no que diz respeito as perspectiva de relacionamento da ABPN e as associações estaduais. É importante um debate que tenha por fronteiras uma profunda reparação de segmentos e regiões historicamente discriminadas na distribuição de recursos de ciência e tecnologia. De tal forma que pensamento preconceituoso e discriminatório, como de Bresser Pereira não passem em “branco”.
Nilo Rosa dos Santos

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