O negro no processo eleitoral
Nos anos oitenta, a cada derrota de candidatos negros, ouvíamos os gozadores que diziam com disfarçados sorrisos que : Preto não vota em preto. Apesar das derrotas nunca desistimos da luta, pois acreditávamos que isto não poderia ser verdade. E, de fato, esta é nossa conclusão.
Vou apresentar a conclusão da pesquisa realizada para a elaboração deste livro. A conclusão poderia ser resumida em poucas palavras: Negro vota em negro e preto vota em pres. Verificamos a existência de fortes identidades nos votos da maioria da população negra de Salvador e estas identidades vão da além da mera identidade ideológica.
Mas antes, é importante situar na historia da luta do negro no espaço de poder no parlamentar. São muitos negros disputaram e assumiram mandatos parlamentares. No livro, relaciono alguns não procuro esgotar, apenas relaciono os mais importantes.
No Rio de Janeiro tivemos José do Patrocínio como vereador. Na Bahia tivemos como expoente o intelectual Manuel Querino, que foi vereador. Querino participou da criação do Partido Operário. Destacamos também o pai dos irmãos Rebouças, Antônio Pereira Rebouças, que foi deputado.
A Frente Negra Brasileira aproveitou o momento político para se inserir no debate institucional. Sua transformação em partido político demonstrou o avanço de lideranças negras que compreenderam que, fora destes espaços, as transformações eram quase impossíveis.
No período chamado de “distensão” tivemos importantes nomes em destaque: Nelson de Sousa Carneiro, Abdias do Nascimento, Lélia Alcantara, Caó Oliveira, Benedita da Silva, que exerceram mandatos parlamentares, ambos em partidos de esquerda. Estes parlamentares geralmente estão identificados com partidos tidos como progressitas.
A trama
Nos anos oitenta o Brasil passou por um processo de abertura política que parecia levar o país para a plenitude democrática. Após quase vinte anos de ditadura militar, a sociedade começava a decidir o seu futuro na escolha de seus dirigentes. Assim, o processo eleitoral poderia ser o instrumento mais importante da democracia.
O aumento significativo do eleitorado determinou o aumento significativo do numero de partidos. Este aumento facilitou a manipulação, na medida em que propiciou o aparecimento das legendas de passagem, que são espaços para abrigar temporariamente lideranças que possam mobilizar os pequenos candidatos de aluguel.
Estes pequenos candidatos estabelecem fortes identidades com suas pequenas bases eleitorais. Em função destas identidades, estes candidatos conquistam algumas poucas centenas de votos, que são suficientes para provocar uma dispersão gigantesca dos votos.
Na direção oposto, vão os representantes das elites culturais. Aliados a organizações empresariais poderosas e, acima de tudo, controlando partidos tradicionais, estes políticos conservadores conseguem, sem representatividade dirigir a cidade sem serem molestados pela maioria da população com quem não guardam identidade.
Concorremos com quase novecentos candidatos em mais de trinta partidos. Para disputar pouco mais de 1.200.000 mil votos. O resulta é uma dispersão incrível de votos. Isto leva a eleição de vereadores com menos de quatro mil votos. Este número reduzido de votos facilita a negociata, pois com apenas 100.000, pode-se compare cinco mil votos, favorecendo assim, aqueles que tem ligação com fortes grupos empresariais.
Os candidatos afro-brasileiros obtiveram 65 % dos votos, mas obtiveram apenas cerca de 20 % dos assentos na câmara. Caracterizando o que chamo de ilusão democrática, isto é tal como uma ilusão ótica, o candidato afrobrasileiro visualiza o poder parlamentar, mas ao se aproximar deste poder o mesmo desaparece.
Fizemos uma análise dos conteúdos dos santinhos e panfletos, mas preferimos centrar atenção apenas nos números. Entretanto, é possível afirmar que os candidatos Negros não são capazes de construir um discurso que vá ao encontro dos anseios do conjunto da comunidade que eles pretendem representar.
Por outro lado, os candidatos pretos são capazes de estabelecer certos tipos de identidades que os fazem serem portadores de confiança de suas comunidades. Tais identidades são propostas discursos ou atividades agregadoras e produtora de relações e trocas objetivas ou simbólicas.
Conclusão
A trajetória dos afrobrasileiros no processo eleitoral é plena de história de êxito. Os políticos e parlamentares negros exerceram influencia decisiva em vários momentos da história brasileira. Entretanto, em sua maioria, eles não são capazes de estabelecer um diálogo que atinja diretamente o interesse do eleitorado.
É importante criar instrumentos que ajudem a superar a ilusão democrática criada pela elite cultural. Estes instrumentos devem ter como base a possibilidade de superar os obstáculos à liberdade dos afrobrasileiros. Tais com justiça fiscal, descentralização administrativa, principalmente na área de ciência e tecnologia.
NILO ROSA
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