quarta-feira, 28 de outubro de 2015

GASTOS PÚBLICOS: elites culturais x afro-brasileiros


Pretendemos discutir o papel dos gastos públicos na reprodução das elites culturais e no controle da sociedade brasileira por seus representantes. Vamos evidenciar, através de dois setores, qual sejam os gastos com educação e os gastos com juros, como os segmentos onde os afro-brasileiros são minoritários são beneficiados. Enfim, como a livre ação dos afro-brasileiros poderia mudar nossa realidade sócio/econômica.
A ida do governo ao mercado para buscar recursos para se financiar é um dos motivos que  usam para explicar nossas elevadas taxas de juros. Que gastos são estes que justificam taxas consideradas absurdas em todo mundo. Mas temos que discutir quais são os gastos que são financiados pelo governo e a que segmentos estes gastos favorecem. Talvez esta discussão possa explicar a dificuldade de ser realizado o decantado ajuste das contas públicas.
As elites culturais, conservadoras e reformistas, dentro da estrutura de poder se digladiam: ajuste econômico conservador ou continuidade das reformas. Com efeito, os manuais ortodoxos religiosamente seguidos pelos economistas conservadores orientam, em momentos de crise fiscal, aumento de impostos e corte nos gastos públicos. Os economistas reformistas resistem, aceitam aumento de impostos (CPMF, etc.), mas rejeitam qualquer corte de despesas.
Os gastos destinados a saúde e a educação representam juntos em torno de 15% do PIB, isto significa metade do percentual destinado ao pagamento dos juros da dívida pública, este em torno de 30% do PIB. Os valores desembolsados com saúde e educação não melhoram a atuação destas áreas para a maioria da população. Na mesma direção, os valores pagos a título de juros não decorrem de uma política de investimentos que vai ao encontro dos interesses destas mesma maioria.
O educação básica pública decisiva para o futuro do país, onde estão a maioria esmagadora dos afro-brasileiros, é de péssima qualidade e, principalmente, deslocada de nossa diversidade cultural. A implementação da Lei 10.659/03 poderia resolver este afastamento, mas as elites culturais resistem. Por outro lado, as pouquíssimas escolas privadas de qualidade atendem aos interesses das elites culturais, nelas os afro-brasileiros entram para a faxina e manutenção.
“Nossas” melhores universidades estão em péssimos lugares nos ranking de universidades mundiais, apesar da desastrosa política de centro de excelência que vem sendo aplicado no país. Esta política vem sendo desafiada nos últimos anos com a criação de 18 universidades, principalmente no Nordeste, falta, entretanto regionalizar as verbas das pesquisas, de bolsas e de investimentos. Estes “centros de excelência” resistem a adoção de cotas universitárias, reservam seus espaços, financiados com dinheiro público, para os herdeiros das elites culturais.
No campos científico, existem um desperdícios com o financiamento de atividades ditas acadêmicas, congressos, seminários e conferências de associações “oficiais” em hotéis de luxo que pouco produzem. Enquanto isso, atividades acadêmicas que trazem novidade no cenário das ciências sociais tem dificuldade levantar recursos. Temos como exemplo, no cenário nacional, a Associação Brasileira de Pesquisadores Negros, com 16 anos, já tendo realizado oito congressos, ela conta quase que exclusivamente com financiamento de fundações internacionais. Em nível regional, temos a Associação Pesquisadores Negros da Bahia, com dez anos ele já realizou 6 congressos, contando apenas com recursos das universidades baianas, suas parceiras.
Os gastos tributários com educação ciência e tecnologia, para o ano de 2014, chegaram a mais de vinte bilhões de reais. “Gastos tributários são gastos indiretos do governo realizados por intermédio do sistema tributário, visando atender objetivos econômicos e sociais”. Em resumo, representam renuncia fiscal que vão ao encontro dos interesses das elites culturais.
O Estado Brasileiro gasta pouco e mal com educação. O fato de gastarmos um percentual do PIB próximo ao de alguns países desenvolvidos, não significa que atingimos o ideal. Por décadas, talvez séculos nossa educação foi negligenciada dentro da prioridade nacional. É preciso superar o atraso aumentando o valor gasto em relação ao PIB, sempre tendo em vista a mudança do conteúdo para atender a Lei 10.659/2003.
Entretanto, o valor elevado de gastos não significa eficiência. Pior, pode até ser eficiente, mas prejudicial ao povo brasileiro. É a lógica do atual modelo, isto é gastamos muito para manter a hegemonia das elites culturais. É preciso mudar o conteúdo, principalmente contando a luta dos afro-brasileiros em busca da liberdade.  De Palmares a Feira do Rolo, passando pela Revolta dos Males, Cabanada, dentre muitas; os afro-brasileiros tentaram, e muitas vezes conseguiram construir uma sociedade livre, é o exemplo dos mercados populares como a Feira do Rolo.
               Estancar os desperdícios deve ser o primeiro passo. Com efeito, a política de centro de excelência tem sido historicamente danosa para o Brasil, dois ou três estados consomem quase toda verba em educação e pesquisa e pouca contribuição vem sendo dada para a educação e a eficiência da pesquisa científica no Brasil. Os “turismos acadêmicos” com dinheiro público devem ser contidos.
Os valores desembolsados a título de juros pelo Tesouro são utilizados para a reprodução das elites culturais. Com efeito, empresas pouco rentável estão constantemente recorrendo ao Tesouro, via BNDES, para recompor seus capitais e distribuir seus “lucros” aos seus proprietários.
Juros baixo e dinheiro em abundância também não chegam aos empresários afro-brasileiros, no entanto os governos, tanto da elite conservadora, como da elite reformista emprestaram bilhões aos empresários oriundos destas elites. Os repasses do Tesouro feitos a aquilo que deveria ser um banco de desenvolvimento econômicos social, o BNDES chegam a bilhões para empréstimos a juros subsidiados para os negócios dos empresários das elites culturais. Aos empresários afro-brasileiros, às guias.
Com efeito, o Tesouro capita no mercado a taxa Selic e empresta ao “banco social” a TJLP. Estes empréstimos não dão o resultado esperado na criação de empregos, na geração de renda, consequentemente, no crescimento do PIB. Portanto, funciona como transferência de renda da população para os empresários das elites culturais.
Os repasses ao BNDES tem peso significativo na necessidade de financiamento do governo federal, portanto consequência direta no elevado valor da taxa de juros. Não foi por menos que o Ministro Levy tentou bloquear os repasses logo no início de sua gestão. Mais de 80% de capital emprestado pelo BNDES é destinado a empresas de grande porte que responde por menos de 1/5 dos empregos no país. Portanto, os repasses do banco social vai beneficiar as empresas dos representantes das elites culturais, embora todos pagam com o estouro das contas públicas.
Os mesmos valores investidos em atividades do mercado interno daria melhores resultados. Por exemplo, os empresários afro-brasileiros dos mercados populares criam riquezas e fazem circular bens e serviços que somados dão uma contribuição maior ao desenvolvimento, principalmente na geração de renda. Em seus espaços de trabalho, onde as mercadorias e os preços são livremente negociados, compartilham lazer e produção de riqueza. Nestes espaços, todos podem participar, assim, para sair e principalmente para entrar, apenas o mérito e a capacidade de negociar são requeridos. Entretanto, como eles encontram dificuldades para produzir bens, eles acabam fazendo circular “bugigangas” de péssima qualidade importadas da China.
Os gastos públicos beneficiam as elites culturais, por isso eles não podem ser reduzidos. Com efeito, os dois exemplos que descrevemos dão a exata dimensão das elites para convencer seus pares. Contatamos que os gastos com educação e com juros beneficiam as elites culturais.
Entretanto, é preciso aumentar o gasto com educação, mudando seu conteúdo, adaptando-o a nossa diversidade cultural e estancar os desperdícios. Descentralizar, por estados, os recursos das agências de fomento a pesquisa, tendo em vista um processo compensatório para o Nordeste. A democratização das verbas destinadas a pesquisa cientifica é a solução para o avanço da mesma. A centralização em “centro de excelência não produz resultado.
Os gastos tributários representa desperdício e, por isso devem ser eliminados, não apenas da educação, ciência e tecnologia principalmente na saúde.
Os recursos do Tesoure devem ser repassados aos bancos púbicos para empréstimos aos setores produtivos, principalmente aos empresários afro-brasileiros. Os principais beneficiários são ineficientes na produção de riqueza. Estes recursos devem ser repassados a juros subsidiados e sem burocracia. Deve ser facilitada a criação de bancos, com a diminuição da burocracia.



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