Estamos em uma
crise de paradigma, não que os paradigmas não estejam dando resultado onde eles
se originaram, e sim, porque eles se
esgotaram nas sociedades colonizadas, por falta de resultado. No entanto, as
elites culturais insistem em impor seus modelos, principalmente no campo da
ciência e tecnologia. Isto pode ser facilmente observado no funcionamento da
produção de conhecimento no Brasil.
A estrutura da produção de ciência e tecnologia é inadequado para nossa
realidade. Poucas universidades, em algumas regiões, concentram a maior parte
dos cursos de pós-graduação, das universidades públicas, e, consequentemente
das bolsas. Isto é consequência de um sistema de financiamento sem
transparência e por isso, ineficaz, que aloca a maioria dos recursos em alguns
centros. Por isso, somos os últimos na produção de ciência e tecnologia.
Portanto, é imperativo que esta estrutura seja desconstruída.
A possibilidade de construção de outra estrutura teve importante
contribuição do movimento negro. Lei 10.639/2003 e as politicas de ações
afirmativas são dois exemplos. Entretanto, a primeira não consegue se implantar
e a segunda, apesar de implantada em importantes universidades, precisa avançar,
por exemplo a criação de cotas para concurso para professor universitários sofre
resistência das elites culturais nas universidades. Elas podem levar a uma nova
leitura cultural da sociedade na superestrutura de poder.
A Bahia, por conveniências políticas mais do que de produção de
conhecimento, interiorizou as universidades, sem contudo integrá-las em
qualquer projeto. A Federação, hegemonizadas pelos interesses das elites
culturais sudestinas, atrasou o quanto pode a criação de universidades no
Nordeste, a Bahia durante décadas abrigou apenas uma universidade federal. Embora
timidamente implantadas, as três novas universidades que podem reequilibrar a
estrutura conservadora, carecem dos recursos necessários até para a contratação
de professores.
No momento, vivemos uma crise com um viés político e econômico que pode
levar a uma crise social. A solução para esta é buscada no retrocesso de alguns
tímidos avanços. Assim, a redução do financiamento do Fies, o cortes nos
recursos orçamentários destinados ao ensino superior e o rígido controle de
algumas conquistas sociais agravam as injustiças na sociedade. A resposta a
estes ataques só podem vir da mobilização social, principalmente dos
pesquisadores negros.
As greves nas universidades são consequências da falta de prioridade para
o sistema de ciência e tecnologia, seja no nível regional ou no federal. Mas
elas não conseguem identificar a lógica de dominação presente em sua gênese. A
crença na polaridade da disputa, impede a visão da “centralidade da cultura”
no processo de luta política. A engajamento dos intelectuais negos neste processo
poderia adicionar a qualidade necessária.
Os intelectuais negros precisam transformar a violência contra a
juventude negra em um fato político, contrapondo-o ao olhar das elites culturais
que insistem e conseguem enquadrá-lo como fato policial. Anualmente milhares de
jovens negros são assassinados, de tal forma que pode-se configurar como uma
tentativa de genocídio. No entanto, este crime contra humanidade é percebido
como uma ação apenas policial, tristemente associado a lógica do futebol, por
autoridades política a busca de legitimidade.
Podemos assim concluir que há um necessidade de comunicação e diálogo
entre os intelectuais negros. A contribuição dos intelectuais negros não
consegue construir um diálogo na medida que não dispõe de instrumentos que os façam
insurgir no debate ideológico, apesar do criativo e inovador de suas ideias.