quarta-feira, 14 de setembro de 2016

"Um estranho no ninho": crise e alteridade



A ameaça à reprodução do capital na república racista exige operações ousadas e radicais. A inação pode conduzir a contestação do modelo civilizatório dominante. Urge, portanto, a exclusão e, se possível, reclusão dos culpados.

O que está em jogo é a continuidade da dominação pelas elites culturais. Embora não existam possibilidades de mudança na forma de dominação, estas elites agem rapidamente quando imaginam que seus valores correm o risco de serem contestados. Por isso, o “modus operandi” continuará utilizando-se da corrupção para a reprodução do capital. Para isso, a corrupção será sempre o "modus operandi" da política.

As injustiças sociais, que tem por base as diferenças étnicas, não podem fazer parte de um processo político democrático sem estarem camufladas. As profundas injustiças sociais negam a existência das liberdades individuais, logo impedem a possibilidade de transformação. O racismo sempre foi o principal processo de restrição da liberdade utilizado secularmente pelas elites culturais. Por isso, a corrupção é fundamental para a obtenção de recursos para o “convencimento” do cidadão a optar por esse ou aquele candidato.

Há uma crise no "modus operandi", motivada pela entrada e longa permanência do "outro" - o estranho - nos espaços reservados ao poder. O mestiço, o retirante nordestino, a mulher, o negro, os homossexuais não são aceitos, como parceiros, no processo político, salvo de forma simbólica ou folclórica. Por isso, a punição com prisões arbitrárias, as torturas psicológicas e as chantagens contra aqueles – os empresários - que contribuíram com a utilização deste “modus operandi” pelos “estranhos no ninho”.

É isso que explica a caça implacável as principais referências simbólicas “d’autrui”. Existem um consenso entre as facções das elites culturais conservadoras e parte das facções das reformistas, qual seja: é preciso urgentemente, repetem eles, que o “sang impur abreuve nos sillons”. É tal consenso que explica os processos kafkianos e a edição de leis que violam direitos consagrados universalmente, alguns deles inscritos em nossa Carta Magna.


Portanto, é preciso excluir o estranho do ninho para que, logo-logo as coisas ajeitem-se e o capital possa livremente se reproduzir neste capitalismo sem liberdades do principal agente econômico.

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