Estamos vivendo um momento impar na triste história de
nossa triste república. Chegamos onde era difícil imaginarmos chegar, se
olhássemos de cerca de trinta anos atrás. Inauguramos uma nova Constituição,
deixando intactos alguns mecanismos jurídicos de intervenção política.
Mecanismos estes habilmente usados pela elite cultural conservadora e uma parte
da elite cultural reformista. Estas elites fortemente imbricadas nas estruturas
administrativas do Estados, aliadas a setores da mídia historicamente defensora
das injustiças étnicas, construíram uma aliança centrada no impedimento do
avanço do “outro”, portanto centra numa visão de cultura hegemônica.
Este caldo de cultural produziu um golpe de estado
revertido de legalidade. Este golpe tem elementos de todas as matizes. De
classe porque financiada pelos herdeiros dos escravocratas do oeste paulista.
De gênero porque defenestraram intencionalmente a primeira mulher governanta do
país. De geração, pois consumado numa casa, o senado, carcomida de políticos velhos, que estão
sempre prontos a resistir a verdade de que “o
novo sempre vem”. E legitimada por uma Suprema Corte acuada. Mas foi sobre
tudo um golpe racista, pois os Afro-brasileiros foram os que tiveram mudanças
mas significativas no processo de transformação dos últimos trinta anos de
“ensaio democrático”.
Com efeito, as cotas nas universidades, as cotas nos
serviços públicos e o financiamento do ensino
superior serão os importantes, mas tímidos avanços, primeiramente
atingidos. Estes programas se avançassem seriam capazes de abalar a
superestrutura de dominação cultural. Por isso, serão sutilmente sabotados. Mas
acima de tudo, o combate á corrupção, instrumento indispensável de compensação
aos empresários racistas sofrerá um indisfarçável retrocesso. Sem a corrupção
dos empresários racistas não tem como compensar a impossibilidade de produção
de “mais valia”.
Portanto, estes elementos tornam o golpe de agosto de
2016 diferente do golpe de primeiro de abril de 1964, dando ao de agosto um
corte nitidamente racista.
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