sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Um golpe com corte nitidamente racista


Estamos vivendo um momento impar na triste história de nossa triste república. Chegamos onde era difícil imaginarmos chegar, se olhássemos de cerca de trinta anos atrás. Inauguramos uma nova Constituição, deixando intactos alguns mecanismos jurídicos de intervenção política. Mecanismos estes habilmente usados pela elite cultural conservadora e uma parte da elite cultural reformista. Estas elites fortemente imbricadas nas estruturas administrativas do Estados, aliadas a setores da mídia historicamente defensora das injustiças étnicas, construíram uma aliança centrada no impedimento do avanço do “outro”, portanto centra numa visão de cultura hegemônica.

Este caldo de cultural produziu um golpe de estado revertido de legalidade. Este golpe tem elementos de todas as matizes. De classe porque financiada pelos herdeiros dos escravocratas do oeste paulista. De gênero porque defenestraram intencionalmente a primeira mulher governanta do país. De geração, pois consumado numa casa, o senado,  carcomida de políticos velhos, que estão sempre prontos a resistir a verdade de que “o novo sempre vem”. E legitimada por uma Suprema Corte acuada. Mas foi sobre tudo um golpe racista, pois os Afro-brasileiros foram os que tiveram mudanças mas significativas no processo de transformação dos últimos trinta anos de “ensaio democrático”.

Com efeito, as cotas nas universidades, as cotas nos serviços públicos e o financiamento do ensino  superior serão os importantes, mas tímidos avanços, primeiramente atingidos. Estes programas se avançassem seriam capazes de abalar a superestrutura de dominação cultural. Por isso, serão sutilmente sabotados. Mas acima de tudo, o combate á corrupção, instrumento indispensável de compensação aos empresários racistas sofrerá um indisfarçável retrocesso. Sem a corrupção dos empresários racistas não tem como compensar a impossibilidade de produção de “mais valia”.


Portanto, estes elementos tornam o golpe de agosto de 2016 diferente do golpe de primeiro de abril de 1964, dando ao de agosto um corte nitidamente racista.

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