É
praticamente impossível lutar contra uma prática criminosa que a maioria sabe que
existe, mas ninguém é concretamente responsabilizado por seus resultados. Encontra-se
os responsáveis nas institucionais, em seguida evolui-se para as estruturas. E assim, o racismo institucional e o racismo
estrutural sucedem-se sem que o genocídio do povo negro se interrompa.
Um dos principais dilema
dos movimentos sociais encontra-se em construir aliados e identificar adversários.
O movimento social negro não poderia ficar indiferente a este debate. No que
chamamos início da “Terceira fase do Movimento Negro” quando fomos para as
“Escadarias” os aliados estavam presentes, as fotos que circulam nas redes sociais
testemunham. Hoje, podemos encontrá-los no campo reformista da elite cultural.
As principais lideranças
daquele movimento faziam parte de organizações que lutavam contra a ditadura
civil/militar que aterrorizava o país naquela época. Na clandestinidade, fica
hoje difícil e desnecessário precisar estes atores. Mas sabe-se que as
correntes “trotskistas” estavam na liderança. Os stalinistas incorporam-se
algum tempo depois, inclusive com deslocação de alguns quadros para regiões
estrategicamente mais importantes. Assim, é fácil concluir que os rumos do
movimento negro tiveram a influência decisiva destes grupos.
Neste quadro, ver algumas
organizações do segmento social, por exemplo, o movimento negro, como parte da
elite cultural reformista é uma leitura possível, não é correta nem incorreta
que se opõe à elite cultural conservadora. Trata-se de um argumento dicotômico,
não preferivelmente o meu. Mas o campo reformista da elite cultual, que chamo
de “parceiros táticos” e o campo conservador da elite cultual, que chamo de “aliados
ocasionais” devem merecer idêntica atenção. Entre estes dois campos, diversos
segmentos insurgentes buscam alcançar seus objetivos.
Os primeiros são parceiros
táticos, porque atendem nossas necessidades mais imediatas. Assim, logo que, juntos
chegamos ao poder, somos indicados para importantes cargos, mas com verbas limitada
e com pouca visibilidade. Assim, negam-nos um importante valor social, qual
seja: “as bases sociais da autoestima”.
O que ainda é pior, não
implantam as políticas estratégicas que podem combater o racismo em sua base.
Neste caso, o exemplo notório é a implantação da Lei 10.639/2003 em algumas unidades
da federação conquistadas pelo voto pelas elites culturais reformistas com
apoio dos militantes dos movimentos sociais, principalmente o movimento negro. Esta
lei constrói as bases de uma disputa entre as duas culturais que disputam a hegemonia
em nossa sociedade. Por isso, é uma “lei para inglês ver”.
Nossos aliados ocasionais,
a elite cultural conservadora, não merece aqui nenhum comentário. Apenas duas
constatações ou somos objetos folclóricos de exibição ou tamboretes
descartáveis. No entanto, disputam a hegemonia política com a elite cultural
reformista. Por isso, não podemos nos furtar de tê-los como aliados de forma
ocasionais na luta contra o racismo,
Portanto, as organizações
insurgentes, sobretudo as do movimento negro, não podem estar automaticamente alinhadas
com a este campo reformista. Temos que tê-los como um campo tático e manter com
as organizações deles um relacionamento pragmático.