Sindicalismo, autonomia e poder: o jogo dos anos oitenta
Artista, sindicalista e político Manuel Querino compreendeu o importante papel da Cultura na luta pelos trabalhadores. Por isso, deu-nos uma forte contribuição ao mostrar a importância da contribuição dos africanos e afro-brasileiros. Seus ensinamentos são passos a seguir para quem deseja lutar contra as injustiças promovidas por uma cultura de exclusão.
As elites reconstroem o "Outro" como seu contrário; este a completa e ao mesmo tempo a ameaça. Completa como portador de uma parte de sua história que ela insiste em negar. E ameaça, porque ele pode ocupar o lugar que culturalmente lhe é reservado. Este lugar pode ser nas relações de trabalho, nas relações políticas, e mesmo nas relações afetivas. E assim, ela (a elite) constrói hierarquias dentro destes espaços e congela as relações sociais dentro destes espaços hierarquizados. O resultado final se identificava com o modelo. Com efeito, a partir da segunda metade dos anos oitenta, os parlamentos municipais, estaduais e federal recebem os primeiros eleitos egressos do movimento sindical ligados à esquerda. Estes distanciam-se das referências simbólicas dos principais líderes sindicais que disputavam o poder institucional. Isto é, os líderes sindicais do início do processo foram usados como “boi de piranha” e, assim, foram “assassinados”.
Os sindicalistas negros que disputavam o poder neste período não compreenderam que se tratava de uma luta cultural, onde aqueles que eram negros não podiam chegar ao poder. Estes não dispunham de instrumental suficiente para compreender esta lógica. O instrumental que usavam era dominado por seus companheiros brancos. O mesmo acontecia com os militantes negros, sejam dos movimentos bairros; sejam do movimento estudantil, todos eram orientados por uma pseudociência, produzida pelos exploradores e sequestradoras de seus antepassados.
Os Afro-brasileiros não aprenderam a lição ensinada por Querino. Em razão disto, perderam o "bonde da história nas radicais mudanças ocorridas após os anos oitenta. As lutas empreendidas por nosso Mestre tinham a pauta da autonomia de atuação como guia principal da defesa da classe trabalhadora.
A conclusão que nos vem é que uma luta legitima e oportuna no tempo e no espaço é inseparável do contexto social e das relações nele inseridas. Assim, no cenário da desigualdade social baiana, que opõe os afro-brasileiros e os representantes da “elite cultural reformista”, prevalece a lógica de exclusão do Outro. O que nos intrigava para chegarmos a esta conclusão era: como um quadro político heterogêneo se confundia com um quadro social, político e econômico? A resposta só́ pode ser encontrada ao se analisar o quadro histórico de uma sociedade que tentou construir uma homogeneidade tendo como base a exclusão do "Outro".
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