É impossível uma governo legítimo numa sociedade com
tão profundas desigualdades étnicas como a nossa. Estas desigualdades impedem a
obtenção de consenso entre os segmentos sociais, só o permitindo entre as
elites culturais, quando seus interesses se vem ameaçados. No caso atual, é
indispensável a proteção da reprodução do capital.
A reprodução do capital em uma democracia de fachada,
isto é, aquela sem liberdade para os agentes econômicos, só é possível dentro
de um quadro de violência política. É o que estamos vivendo. A violência
política consiste na manutenção da maioria da população distante das esferas de
poder. A simples possibilidade de alteração desta lógica excludente estabelece
um consenso entre os representantes das elites culturais.
De fato, autoridades políticas, autoridades
judiciárias e autoridades do poder executivo se concertam, uns em ações
violentas, outros em profundos silêncios; mas todos cientes que estão defendo a
continuidade de uma sociedade etnicamente desigual. Da mesma forma, as principais
organizações da sociedade da civil hegemonizadas se ausentam contra esta
concertação.
Por outro lado, as organizações próximas as principais
vítimas desta violência política continuam acreditando num projeto de luta
universal. Não sabem, estas organizações, que nossa sociedade estrutura-se na
disputa étnica. Não sabem e não poderiam saber, na medida que são centralizadas
por uma filosofia que desconhece a realidade. O mais grave é que as
organizações dos discriminados são hegemonizadas por esta mesma filosofia.
No entanto, a luta e os avanços continuarão, pois no
estágio em que chegamos, não existe possibilidade de retrocesso. Isto significa
que os enfrentamentos serão, mais agudos. Por isso, é necessário buscar um
consenso entre os discriminados para voltarmos a um governo legítimo. O único
capaz de produzir avanços.
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