sábado, 22 de julho de 2023

Sucateamento ou rebaixamento: o dilema das universidades baianas

 

Vamos ver como as elites negam-se a construir instrumentos de intervenção com vão na direção do avanço tecnológico. De fato, as soluções para nossos atrasos são sempre buscadas no estrangeiro.

O mantra da elite cultural é colocar a culpa pelos nossos fracassos no Outro. Aqueles da Cepal colocavam a culpa pelas perdas em nossas relação de troca internacionais em nossos parceiros comerciais. Aqueles que os golpistas de primeiro de abril de 1964 acusavam de querer destruir a família com o famigerado comunismo. A imensa contradição é que a solução das nossas mazelas também cabe ao outro. Vamos analisar este paradoxo sub  prisma do nosso atraso industrial.

As elites culturais locais associadas ao capital internacional atraem grandes empresas para a instalação de fábricas. Para isto oferecem vantagens econômicas e financeiras a custas da sociedade. Estabelecem prazos para o fim destes benefícios. Ao fim deste prazo o empreendimento perde a lucratividade e as empresas se retiram do Estado.

A indústria automotiva é um exemplo emblemático. Por duas vezes as elites culturais da Bahia tentaram atrair estas indústria. Na segunda vez, ela foi bem sucedida. A fabrica de carros Ford foi instalada em 2001. Ficou vinte anos, isto é enquanto os incentivos a tornava competitiva. Não transferiu qualquer tipo de tecnologia. Os componentes de alta tecnologia vinham de suas produções no exterior. Na época eu trabalhava no aeroporto e liberava, válvulas e outros equipamentos.

A solução é investir no mercado interno. “Obá ... É no xaréu que brilha a prata luz do céu”. Esta a afirmação é de outro gênio de Santo Amaro, Caetano Veloso. Mas as elites sabem disso, por isso procuram. Tecnologia não se importa. Produz-se quando se investe nas universidades, mas . Este investimento em tecnologia torna-se impossível em função do rebaixamento das universidades a departamento da Secretaria de Educação.

O problema é que este mercado é majoritariamente de afro-brasileiros. E as elites culturais da baiana, seja reformista ou conservadora, não tem nenhum interesse em atender a um público com esta especificidade. Portanto, a solução de investir no mercado interno se torna uma questão política.

A solução proposta é o mais do mesmo: descredito do mercado local. Incentivos, subsídios e vantagens, quando tudo isto acabar, caminho da roça; disse Olívio Dutra “tchau sem a Deus”. Ontem os americanos, agora os chineses. Eles estão sempre procurando seu salvador.

A Ford foi embora. quero novidade! Esta partida já era esperada. Estão todos mentindo, fingido surpresa. Todos sabíamos que mais cedo ou mais tarde isto aconteceria. Foi tarde! E pouco tem a haver com a pandemia, como alegaram. Esta alegação serve, sobretudo, como uma espécie de álibi. É a movimentação do capital em busca de resultado.

A indústria automobilística está em crise no mundo todo em função principalmente das mudanças tecnológicas, ambiental e da entrada no mercado dos produtos da indústria asiática. Aqui, a crise é fundamentalmente uma crise de mercado. Não se pode esquecer que a proposta do fundador da Ford era construir carros acessíveis ao cidadão comum. Por razões já mencionadas, este cidadão comum não está na pauta do governo.

Hoje, são os chineses os salvadores da “pátria”. As promessas são as mesmas, criação de empregos, transferência de tecnologia.  As duas propostas devem ser relativizadas. Os empregos serão dados aos robôs e tecnologia não se transferia sem investimentos nas universidades.

Portanto, fica evidente que na “terra do branco mulato a terra do preto doutor” são os “Outros” os destinados a encontrar  a solução de nossos problemas.

Nos passos de Querino, rumamos ao IX CBPN

segunda-feira, 17 de julho de 2023

Elite, Satélite e dialética

 Elite, Satélite e dialética

 

Vamos discutir como as elites culturais constroem a hegemonia no processo politico, construindo cadeias de transmissão com base em seus satélites. As ideologias juntamente com métodos bem aceitos são capazes moldar o comportamento de seus satélites.

 

As elites culturais reformistas determinam as pretensões de suas bases. Os satélites são fundamentais. Estes só podem ser quadro política de base, nesta condição acessam o apenas aos textos de agitação política que lhes são passados como sendo produção cientifica.

 

As elites culturais reformistas brilham como astros. Entorno delas, seus satélites absorvem sua luz; repetem seus discursos e aplicam seus métodos. Acreditando que fazem uma ciência politica revolucionária. Para estas elites, seu método revolucionário, capaz de dar respostas a todas as contradições é a dialética. Assim, os satélites passam a utilizar este método para resolverem as contradições que enfrentam. Deixando de procurar em sua cultura ou em outras, respostas para muitos impasses.

 

Nem todas as culturas constroem seus discursos na busca da síntese entre o bem e o mal. A tese, a antítese e a síntese podem construir um bom cominho na busca das contradições históricas. O que é a dialética? Nada mais é do que a forma de construir o discurso de uma determinada cultura. O “discurso da autoridade” é capaz de aportar soluções mais imediatas.

 

A analise dialética é importantíssima para a compreensão da história das lutas econômicas. Mas tem pouca condição de contribuir na compreensão das disputas entre as culturas. O que acontece é que as lutas culturais são determinantes para compreender as ação das elites culturais. Portanto, sem compreender que “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus”, as elites culturais orientam seus satélites para atingir seus objetivos.

 

Concluímos que as ideologia e os métodos das elites culturais buscam e conseguem manter a estrutura racial no poder.

sexta-feira, 7 de julho de 2023

Dois Olhos de Ressaca aos Cadernos Negros.

Dois Olhos de Ressaca aos Cadernos Negros. 

Objetivo com este texto mostrar a importância da leitura dos clássicos para a melhor compreensão da realidade social. Estes podem estar na literatura romântica, na literatura econômica e na literatura filosófica. Associar a leitura dos clássicos a uma leitura da sociedade social é uma das soluções ideias para a mudança da realidade.

Para atingirmos nossos objetivos, vamos focar nossa atenção em Machado de Assis, Manuel Querino, Celso Furtado e Fenando Henrique Cardoso. Estes autores em áreas diferentes do conhecimento, nos trazem informações, que lidas de forma adequada, fortalecem a formação dos jovens. Machado em Dom Casmurro; Querino em Cultura Baiana; Furtado em Formação econômica do Brasil e FHC em As Ideias e Seu Lugar, contribuem largamente para a este propósito.

Em Machado, vamos discutir o sentido dado aos olhos de “ressaca” de Capitu, dentro do contexto da realidade de uma economia escravagista das elites culturais. O contato com a produção de um autor afro- brasileiro como Machado pode motivar uma interpretação e o aprofundamento da realidade e das relações sociais. O problema reside na leitura da língua culta deslocada do contexto social do autor. Os jovens na sala de aula fazem uma leitura dos textos da língua portuguesa de acordo com sua realidade social. Por isso, é preciso levar isto em consideração para uma melhor produção e avaliação do ensino da língua na periferia.

Na adolescência, uma dos autores obrigatórios é Machado. Quem ainda não ouviu falar dos “olhos de ressaca de Capitu”. Notabilizado por Machado, nosso maior escritor, não por acaso afro-brasileiro, em Dom Casmurro. Nasceu preto e pobre, de um pai descendente de africanos em  um morro  da zona do cais do Porto do Rio de Janeiro. Morreu branco e rico na parte rica da cidade. Os olhos de ressaca de Capitu viram símbolo de atração fatal.

 

Machado, ao contrario de importantes escritores negros de sua época, adquiri notoriedade, portanto, visibilidade ainda enquanto produzia seu genial legado. Seus romances são do gosto dos melhores leitores, retratando a vida e o cotidiano do carioca. Assim, em uma linguagem que vai direta ao gosto de vários segmentos, ele consegue esquecer a sua cor e superar suas origens sociais.

 

Os Cadernos Negros através de um literatura comprometida tenta dar visibilidade ao afro-brasileiro, uma vez que “a invisibilidade social do afro-brasileiro se manifesta, ainda, na incapacidade de enxergá-lo fora dos papéis sociais a ele destinados pela sociedade”. Com efeito, falando de si da sua realidade e para seu mercado, os autores destes cadernos dão visibilidade a uma literatura engajada.

Em Querino, o sindicalista, o politico e o produtor de cultura, vamos ver a evolução da necessidade de mudança, com efeito a politica foi percebido como algo além da fronteira. Neste gênio, percebesse nitidamente a compreensão  papel da cultura na possiblidade de transformação, algo ainda obscuro para muitos “iluminados” pela cultura do sequestrador e exterminador europeu.

O compromisso dos jovens hoje em dia pode ser resgatado se seguirmos os passos de Manoel Querino. Este talvez seja o intelectual mais completo do século IXX. Querido vai da arte a cultura, passando com êxito pela militância sindical e associativa e parlamentar. A leitura das obras de Querino e seu percurso são fundamentais para compreender a possibilidade de mudança.

Em Celso Furtado, vamos ver uma leitura da mão de obra negra plena de preconceito eurocêntrico. Em FHC, vamos ver como as ideias econômicas e filosófica transformam-se quando adentram em nossas fronteiras. Neste ponto, a CEPAL em sua analise clássica esquece a realidade local. Por tudo, isto é fundamental a leitura da língua sem perder o foco na realidade em que se vive.

Na juventude, ao adentrarmos em nossas universidades, somos obrigados a ler Celso Furtado, principalmente sua magnifica obra, Formação Econômica do Brasil. Na parte que nosso economista se refere a formação da mão de obra no Brasil, somos levados a crer que somos indolentes e débeis mentais. Passamos a acreditar que somos os responsáveis pelo atraso do país. Furtado não consegue perceber como a “Cultura, enquanto instituição, age para invisibilizar os Afro-brasieliros.

 

Também é indispensável a leitura de Fernando Henrique Cardoso. De suas fantásticas obras, escolhemos para comentar “As ideias e seu lugar : ensaios sobre as teorias do desenvolvimento”. As ideologias que chegam nestas paragens sofrem transformações para atender os interesses dos grupos e segmentos sociais. Uma dessas ideologias é o liberalismo que é aplicado no sentido inverso na sua matriz.

 

Todos estes autores tem suas obras e suas vidas dentro de uma arena que modernamente chamamos mercado. Esta arena é regulada por instituições. Estas “abrangem quaisquer formas de restrição que os seres humanos engendram para moldar a interação humana”. São estas restrições fundamentais na leitura de nossos clássicos.

 

Em resumo, é preciso buscar, primeiramente a realidade social do autor para fazer uma leitura dos clássicos que possam trazer a realidade para o debate sem distorções importadas.

segunda-feira, 3 de julho de 2023

Persistência e determinação: nos passos de Querino

 Persistência e determinação: nos passos de Querino

 

A Associação de Pesquisadores Negros da Bahia – APNB é a seção baiana da ABPN, ou deveria ser. Ela foi criada para construir o IV COPENE. Idealizada, em 2004, por um grupo de intelectuais que se organizaram para trazer este evento para Bahia. Por questões operacionais e legais isto não foi possível. Contanto com apoio de especialistas, ela foi formalizada em agosto de 2004.

 

Sem controle ideológico e se vinculo com as instituições públicas a Associação se apoiou no prestígio que seus fundadores tinham nas instituições universitárias nas quais lecionavam e pesquisavam. Embora a maioria dos pesquisadores fossem próximas ou filiada ao Partido dos Trabalhadores, estes não comprometiam a Associação com os interesses deste partido.

 

Durante três anos seguidos ela ficou à deriva, como que a abandonada. Somente em 2007, ela reaparece para a realizado do Primeiro Congresso Baiano de Pesquisadores Negros. Realizado entre  na Universidade Federal da Bahia, sendo coordenado pela Professora Doutora a Florentina da Silva Souza. Neste mesmo evento, foi escolhido a Universidade Estadual de Feira de Santana para sediar o Segundo Congresso de Pesquisadores Negro, qual tive o prazer de coordenar.

 

Fui presidente da Associação por quatro vezes. Por duas razoes, a primeira é o desinteresse dos pesquisadores negros, a segunda era meu interesse em razão da compreensão que tenho que as organizações negras devem ter direções estáveis, alias isto é o que acontece na pratica com as principais organizações negras na Bahia. Eleito para a primeira gestão no Congresso da UFBA, em Salvador em 2007 e reeleito no Congresso da UEFS. em Feira de Santana em 2009. Retornando a Direção em 2011 em Jequié, sento reeleito em Porto Seguro. Neste longo período mantivemos nossa página da internet, com todos os acervos dos congressos.

 

Estar por longo tempo a frente desta entidade me fez compreender o sentido da independência e o compromisso ideológico que muitos militantes engajados na “luta de classes” tinham em relação as organizações de intelectuais negros. Principalmente os burocratas negros e pardos. Éramos tratados como quem incomodava quando faziam alguma demanda especificamente para os eventos.

 

Apesar de todas as dificuldades, a  APNB foi capaz de realizar nove edições bianuais sem interrupção graças ao prestígio de seus pesquisadores juntos as suas instituições. Com efeito, reitorias, departamentos, colegiados etc. colocavam suas instalações e, muitas vezes, forneciam recursos. A recusa a contribuição das instituições publicas sempre foi explicitada, salvo raros casos, estes em decorrência das relações pessoais de negros dentro das instituições publicas

 

As contribuições destacavam a necessidade de uma luta politica associada a construção de um novo sistema de verdades. Que se contraporia as verdades advindas da tradição ocidental, esta oriunda do seu mito fundador. Uma vez que consideramos a Bíblia o Mito fundador do ocidente. Alguns intelectuais e militantes ligados estes pensamentos, tiveram papel de meros espectadores. Nunca demonstraram compromissos em construir uma associação de intelectuais negros. Para estes tipo de ideologia negro não precisava ser intelectual.

 

Esta produção intelectual não foi capaz de contribuir para uma leitura da realidade que propusesse outra saída. Ficamos, portanto, presos aos discursos religiosos dos filhos xifópagos do iluminismo, quais sejam o liberalismo e o marxismo.

sábado, 1 de julho de 2023

Na Perspectiva Nacional

 Na Perspectiva Nacional

Veremos que toda dependência ideológica descamba em derivas oportunista que podem chegar a desvios de condutas. Desta forma, a esperança de avanço se transforma paralisia de ação.

Os anos noventa não viu Godot. Mas na década seguinte, os intelectuais negros constroem estruturas que poderiam esquecer a espera. Suas associações de deveriam contribuir com outra leitura da realidade o que poderia desembocar em uma real construção de outras verdades.

Assim, nascia a ABPN na realização do seu primeiro congresso em Pernambuco no final de 2000. Sem vinculo direto com as estruturas ideológicas carcomidas, parecia capaz de uma construção ideológica autônoma, embora a maioria de seus integrantes eram oriundos destas velhas estruturas. No entanto, infelizmente seus principais dirigentes escolheram a dependência de novas estruturas que rapidamente apodreciam.

Seus encontros bianuais logo passaram a ser sobejamente financiados pelas elites culturais reformistas que empolgavam o poder no país. Mas a dependência econômica não prejudicava a tentativa de uma produção intelectual autônoma. Esta todavia, já tinha um comprometimento anterior.

A necessidade de subsidiar a elite cultural reformista prevaleceu. Importantes quadros na formação inicial da associação emprestaram seus talentos em carpos importantes, embora não em cargos decisórios. Fortaleceu-se assim a ideia da centralização na organização . No mesmo momento, importantes quadros originários da fundação se afastaram em decorrência destes comportamentos.

As derrotas das elites culturais reformistas no poder refletiram de imediato na perspectiva da associação de tal forma que alguns eventos não puderam ser realizados. Sendo este o preço da falta de autonomia. Esta dura realidade aguçou alguns comportamentos pessoais que redundaram em desvio de condutas e afastamento de alguns dirigentes.

A ABPN não cumpriu o seu papel. Ou o papel que alguns intelectuais presentes em Pernambuco em sua fundação, imaginavam. Qual seja, multiplicar-se por todo país, construindo associações nos estados, locais em que a pesquisa se realiza. Tentou centralizar nacionalmente de forma a competir com as associações dos brancos, facilitando com isto a obtenção de cargos no executivo nacional. O “copeninhos” os “departamentinhos” tentados pelas direções esvaíram-se.

São os representantes das elites conservadores que estão dando a seu modo uma resposta ao sem que os intelectuais negros brasileiros compreendam qual o seu papel. No episodio da primeira punição de um racista declarado, o Magistrado que um dia o “absolveu”, foi exemplar em seu julgamento, como se internamente ele tivesse se recuperando do primeiro julgamento.

Portanto, verificou-se que a promissora possibilidade de construção de novos critérios de verdade redundou em alguns perigosos desvios de conduta. Levando a ABPN  a obvio naufrágio. 

Nos Passos de Querino, rumo ao IX CBPN