A Dívida Pública e o “ódio
ao outro”, uma relação inseparável
Para abordar a dívida pública,
numa perspectiva insurgente é necessário abordar sua razão, sua lógica de reprodução
e a ausência na esfera de poder daqueles que mais produzem riquezas e não são representados
nas esferas de poder. É este caminho que vamos percorrer.
Dentro de um sistema em que a razão é a confiança, uma dívida é algo
natural, salutar e, até mesmo, desejável. Com efeito, o capitalismo tem no
crédito sua mola propulsora. Não é sem sentido que leva este nome, trata-se de
uma aposta no futuro. O problema se põe quando não se honra o compromisso de
pagamento.
É esta a questão que mais importa: porque não se tem condição de pagar a
dívida? A resposta, simples por que não se tem dinheiro. A questão que aparece
imediatamente, parece óbvia, porque não se tem dinheiro?
O trabalhador e o pequeno empresário podem se contentar com esta
resposta, mas para um país, principalmente do porte do Brasil, esta resposta não
faz sentido. Um país de dimensões continental; detentor de riqueza inesgotável de
norte ao sul; composta de uma população jovem e dinâmica não poderia permanecer
por tão longo e indefinível período com a maioria de seu povo na pobreza.
Os viadutos, as pontes, os metros e as festas juninas
são financiadas pelos cofres públicos. Além disto, a barata e eficiente máquina
pública e seus dedicados agentes fazem a máquina girar, embora maltratados e desprezados
pelos políticos, nos quais eles fielmente apoiam. Estas ações contribuem para o
aumento da impagável dívida.
Na verdade, o país não consegue gerar riqueza
para pagar suas dívidas. E não consegue gerar porque não mobiliza seus recursos
de forma a produzir riqueza. No entanto, as necessidades básicas da população
têm de ser supridas, embora de forma precária. Por este motivo a dívida não deixa
de subir de forma quase exponencial. E, ainda, para agravar, a riqueza que é de
forma quase vegetativa é apropriada pelos diversos agentes econômicos de forma
totalmente desequilibrada.
A incapacidade de produzir riqueza é uma decorrência
do “ódio ao Outro”. Com efeito, o racismo impede que o agente principal da produção
circule livremente, produzindo por isso, riqueza. A circulação da terra está
limitada desde 1850 em razão da Lei da Terra. O capital está sob o controle de
um filhote do inelegível no Banco Central, portanto pouco resta a fazer.
Infelizmente, os mais prejudicados com o
estorvo da dívida pública não têm qualquer representação na esfera de poder,
embora em valores numéricos, elegem os políticos que imediatamente lhes dão as
costas. Estes escolhem aqueles que são mais capazes de expor suas esdrúxulas teses
copiadas de suas matrizes eurocêntricas.
Portanto sem combate diuturno contra a discriminação
racial que atinge a maioria da população brasileira não teremos condição de
pagar a dívidas que beneficia todos os segmentos sociais.