quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Os gêmeos Siameses da Dominação Cultural

 


A violência que se abate sobre o negro brasileiro, em especial sobre os baianos, é fruto de um modelo importado. Com efeito, o liberal malthusiano que ocupa o Palácio do Planalto não é diferente do marxista cristão que ocupa o Palácio de Ondina no que diz respeito à violência contra os negros. Ambos os modelos sustentam-se no poder, desconsiderando os negros como ser humano.

A violência faz parte das principais ideologia exportadas pela elite cultural europeia. Duas delas tem causado verdadeiro flagelo nos territórios invadidos. O liberalismo e marxismo são os dois extremos desta dominação, as duas tem sua origem na necessidade santificar a semelhança.

Podemos ver dois recentes fenômenos como estas ideologias se complementam para atingir o objetivo cultural de extermínio de uma cultura.

Neste ano um fabricante brasileiro de armas transferiu para o exterior uma parte de sua produção, um pouco depois, teve a alíquota de importação de seu produto reduzida a zero. Esta empresa é quem mais financiou o candidato liberal malthusiano, que promove uma diminuição do estado. O desaparelhamento dos órgãos federais que controlam as fronteiras (SRF e PF) facilitam a entrada de todo tipo de armamento no país. Por outro lado, sem uma rigorosa fiscalização nos postos fiscais nas estradas, as drogas produzidas internamente circulam livremente. Por trás destas atividades milhões de reais são realizados. Estes são exemplos de como age o liberalismo malthusiano.

O exemplo de como funciona o modelo “marxista cristão” é o cerco aos bairros populares. Segundo a informa a TV semioficial, este cerco objetivava combater o tráfico. Estes bairros populares (invasões, favelas, alagados etc.) deveriam ser cercados de escolas, teatros serviços públicos, com abertura de ruas não para circular a repressão, como afirmou certa autoridade, mas para transitar transportes coletivos e carros de passeio e outros veículos uteis às comunidades.

Nestes cercos, o agente de repressão não tem escolha a não ser apertar o gatilho, é fato que alguns o faz com requinte de crueldade, no entanto, a maioria obedece às ordens de seus superiores, mandatário dos agentes políticos das elites culturais. Esta alta letalidade não pode ser atribuído ao livre arbítrio do agente de repressão que aperta o gatilho. É a sociedade quem mata dentro de um cálculo de escolha racional. Portanto, é a sociedade que deve ser punida através dos agentes políticos das elites culturais.

A violência destes dois segmentos de fato, faz parte de nossa história. Embora tenhamos uma estrutura que nega em todas as suas partes a existência do racismo. E nem podia ser diferente, uma vez que o racismo é o ódio ao outro.

Assim, as duas ideologias completam-se contra o negro brasileiro. Uma busca na escolha racional o alvo negro; a outra centraliza na mão do estado todo poder de purificação étnico-social.

 

domingo, 6 de dezembro de 2020

Construindo a violência cultural

 

 

Construindo a violência cultural

A manutenção das riquezas exige um controle da difusão da cultura. Nisto o jovem alcaide é mestre.

Ato explicito de racismo. "Corri atrás de patrocínio" disse o jovem alcaide. Para justificar o dinheiro público destinados a seus semelhantes. Para obter voto o alcaide corre atrás de pretos e pretas na periferia, mas para distribuir milhões corre atrás de patrocínio para seus   iguais.

O voto celebra um cruel sistema político. Aos pretos e pretas da periferia são entregues “parquinhos”, encostas reformadas que reforçam a fortuna dos construtores amigos do jovem alcaide.

A democracia é impossível em sociedades extremamente desigual, como é o caso da brasileira. Nesta sociedade, as elites, como atos como estes, garantem a manutenção das desigualdades. O ato do alcaide de Salvador vai exigentemente nesta direção.

A democracia não é como a cor verde das plantas. Ela é o produto da evolução de um processo civilizatório.  Este é fruto de uma forte coesão cultural, conseguida com extrema violência que a história é a principal testemunha das brutalidades cometidas pelos europeus para impor o seu.

Portanto, atos como estes revelam as novas formas de violência para manter a riqueza e dar continuidade à imposição de uma cultura.

 

 

sexta-feira, 24 de julho de 2020

A Luta Contra o Racismo: aliados e inimigos



           
            É praticamente impossível lutar contra uma prática criminosa que a maioria sabe que existe, mas ninguém é concretamente responsabilizado por seus resultados. Encontra-se os responsáveis nas institucionais, em seguida evolui-se para as estruturas.  E assim, o racismo institucional e o racismo estrutural sucedem-se sem que o genocídio do povo negro se interrompa.
Um dos principais dilema dos movimentos sociais encontra-se em construir aliados e identificar adversários. O movimento social negro não poderia ficar indiferente a este debate. No que chamamos início da “Terceira fase do Movimento Negro” quando fomos para as “Escadarias” os aliados estavam presentes, as fotos que circulam nas redes sociais testemunham. Hoje, podemos encontrá-los no campo reformista da elite cultural.
As principais lideranças daquele movimento faziam parte de organizações que lutavam contra a ditadura civil/militar que aterrorizava o país naquela época. Na clandestinidade, fica hoje difícil e desnecessário precisar estes atores. Mas sabe-se que as correntes “trotskistas” estavam na liderança. Os stalinistas incorporam-se algum tempo depois, inclusive com deslocação de alguns quadros para regiões estrategicamente mais importantes. Assim, é fácil concluir que os rumos do movimento negro tiveram a influência decisiva destes grupos.
Neste quadro, ver algumas organizações do segmento social, por exemplo, o movimento negro, como parte da elite cultural reformista é uma leitura possível, não é correta nem incorreta que se opõe à elite cultural conservadora. Trata-se de um argumento dicotômico, não preferivelmente o meu. Mas o campo reformista da elite cultual, que chamo de “parceiros táticos” e o campo conservador da elite cultual, que chamo de “aliados ocasionais” devem merecer idêntica atenção. Entre estes dois campos, diversos segmentos insurgentes buscam alcançar seus objetivos.
Os primeiros são parceiros táticos, porque atendem nossas necessidades mais imediatas. Assim, logo que, juntos chegamos ao poder, somos indicados para importantes cargos, mas com verbas limitada e com pouca visibilidade. Assim, negam-nos um importante valor social, qual seja: “as bases sociais da autoestima”.
O que ainda é pior, não implantam as políticas estratégicas que podem combater o racismo em sua base. Neste caso, o exemplo notório é a implantação da Lei 10.639/2003 em algumas unidades da federação conquistadas pelo voto pelas elites culturais reformistas com apoio dos militantes dos movimentos sociais, principalmente o movimento negro. Esta lei constrói as bases de uma disputa entre as duas culturais que disputam a hegemonia em nossa sociedade. Por isso, é uma “lei para inglês ver”.
Nossos aliados ocasionais, a elite cultural conservadora, não merece aqui nenhum comentário. Apenas duas constatações ou somos objetos folclóricos de exibição ou tamboretes descartáveis. No entanto, disputam a hegemonia política com a elite cultural reformista. Por isso, não podemos nos furtar de tê-los como aliados de forma ocasionais na luta contra o racismo,
Portanto, as organizações insurgentes, sobretudo as do movimento negro, não podem estar automaticamente alinhadas com a este campo reformista. Temos que tê-los como um campo tático e manter com as organizações deles um relacionamento pragmático.
  

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Da formalidade econômica à criminalidade acadêmica.



              Veremos como as sofisticadas estruturas de discriminação montadas pelas elites atingem mestres, doutores ricos ou pobres, desde que sejam “negões”. Veremos também que estes podem até subir na formalidade econômica, mas terão que fraudar a formalidade acadêmica.
O negão caiu em! Mas aqui pra nós o “Lattes" e  "Qualis", são instrumentos de controle acadêmico que devem ser visto pelos pesquisadores negros do "ponto de vista racial". Isto porque, independentemente da forma de avaliação de nossa produção cientifica está na rabeira do “mundo civilizado”.
O caso do “negao quase ministro” deve ser analisado dentro de uma análise estrutural e não de uma análise conjuntural como o caso de Teich, Damares e Salles, dentre muitos casos de falsidade ideológica. Estes tinham vários requisitos para lograr uma pós-graduação. Ao nosso negão faltava o básico.

Este é um bom momento para discutir estes instrumentos de estruturação  da produção de conhecimento. É um bom momento porque os olhos estão voltados para um Afro-brasileiro que ousou usar alguns destes instrumentos de forma fraudulenta para seu benefício privado. No entanto, ele não floreou seu “lattes” para virar ministro, mas para se qualificar academicamente para seus negócios. Sua identidade ideológica com o grupo de poder é que o levou ao ministério, acredito, antes que desse tempo de uma “higienização” de curriculum na Plataforma Lattes.

O “lattes” é uma plataforma que guarda todos os curriculum dos pesquisadores.  O “qualis” é o sistema federal para a classificação livros, revistas etc. utilizados para a divulgação dos trabalhos acadêmicos. O  “Quallis” e o “Lattes”  são determinantes para a autorização e para funcionamento de cursos de pos-graduação. 

Quantas vezes ouvimos boatos de lattes reeditados para propósitos no mínimo discutíveis. Sendo a plataforma de fácil manuseio nas suas funções básicas, qualquer pesquisador pode incluir ou excluir alguém ou algo se assim o interessa. O que não deu tempo a nosso “incauto negão”.

E até mesmo, quantas vezes vimos extenso lattes serem desprezados por medíocres memoriais em uma disputa de vaga acadêmica. Lattes, provas e aulas estarão sempre submetidos aos critérios subjetivos dos intelectuais das elites culturais e de seus satélites.

Quantos de nós pesquisadores negros já vimos “lattes” de outros pesquisadores turbinados. Alguns são feitos com técnica tão apurado que até uma transposição de fronteira pode ser registrada e fazer a diferença em algumas competições acadêmicas. Assim, navega-se por dezenas de paginas de repetição.

Portanto não é com base nas flores colocadas nesta plataforma que vamos analisar o caso de “nosso negão” quase ministro. Assim, vamos tirar nosso negão da criminalidade acadêmica e colocá-lo na formalidade econômica, bem ao lado da maioria de seus irmãos pretos.

A questão é mais bem compreendida quando olhamos o principal instrumento de racismo epistemológico na produção de conhecimento entre nós. Com efeito, o “qualis” presta um papel fundamental no controle da produção de conhecimento.

Alguns “intelectuais” publicam em revistas de áreas de conhecimento diferente, com títulos diferentes – as vezes até a introdução difere. Este “abrakadabra” torna-os imbatíveis nas disputas pelos editais, ficando seus lattes e suas publicações altamente “qualificadas”.

A produção de qualidade encontra-se no qualis, “caixa branca” de difícil acesso para os mortais. Lá descobrimos um interessante critério de classificação, qual seja a produção endogâmica e a produção exogâmica. Este é um primor de discriminação, pois a qualidade não conta e sim o lugar geográfico.

A endogenia e a exogenia devem ser vistas como uma espécie de eugenia epistemológica, pois contribuem fortemente para criar e perpetuar a ciência eurocêntrica que nos imobiliza. Estas duas categorias de exclusão são abusiva e impunemente usadas para perpetuar as desigualdades raciais nas pesquisas entre nós. Este talvez seja o principal instrumento responsável pela imensa assimetria entre o “sul maravilha” e as demais regiões no que diz respeito a número de cursos de pós-graduação e a quantidade de bolsas distribuídas.

Entretanto, nem tudo está perdido. O último relatório da CAPES propõe, pura e simplesmente, a extinção do “qualis”. É evidente que os intelectuais das elites culturais resistirão bravamente, salvo se for substituído por algum controle racista mais singelo.

Dentro desta estrutura, estreita-se as oportunidades de formação acadêmica de nosso “negão”, por isso este teve que partir para a informalidade ou marginalidade acadêmicas, como vem os intelectuais das elites culturais. O negao “vende caixa” pra ganhar dinheiro, por isso não tem tempo para construir um grande lattes e uma produção que possa ir para o qualis. Assim a alternativa foi ganhar dinheiro na formalidade econômica e ficar na criminosa informalidade acadêmica.

quarta-feira, 8 de julho de 2020

Discriminação, Produtividade e Corrupção



            Mercado, discriminação e corrupção estão intimamente ligados ao nosso atraso político, econômico e social. No desenvolvimento lento do nosso processo civilizatório estas três instituições são decisivas para a sua compreensão. Na estrutura de nosso mercado, a discriminação tem papel preponderante, como veremos.

A discriminação no mercado de trabalho está na razão indireta da produtividade e na razão direta da corrupção. Ou seja, quanto mais discriminação menor será a produtividade e maior será a corrupção. Os agentes do capital sabem que não perdem quando fazem escolhas levando em consideração suas preferências pessoais. Por isso, escolhem fatores que muitas vezes não estão de acordo com o retorno do capital envolvido.

A produtividade é ainda mais prejudicada nas sociedades onde o segmento discriminado é numericamente majoritário. Este fenômeno pode ser bem notado nas sociedades colonizadas. Nestas sociedades, o desenvolvimento sustentável é impossível, na medida que os discriminados, via de regra são portadores de outros processos civilizatórios, que ameaça o processo civilizatório hegemônicos.

O empresário discriminador terá dificuldade de encontrar os recursos necessários ao seu empreendimento. Os recursos produtivos não são escolhidos em razão do retorno do capital, por isso, a corrupção é o processo de mais valia do empresário discriminador. O empresário discriminador não espera uma perda nos lucros quando discrimina, pois, ele tem certeza da proteção do estado ou do recurso à corrupção.

A discriminação é eficiente porque o empresário discriminador pode fazê-lo em função da característica de cada indivíduo. Esta possibilidade lhe dá uma grande margem de manobra para disfarçar todos os seus preconceitos. Gordo, preto, mulher, jovem etc.  tudo pode ser objeto de sua discriminação. O que menos importa é aquilo que o trabalho produtivo pode dar de tornar para o seu capital.

A baixa produtividade da economia brasileira decorre da discriminação contra o principal fator de produção a mão de obra negra. Esta discriminação impede qualquer possibilidade de desenvolvimento sustentável. Na medida que impede a livre circulação da mão de obra, a nosso ver, principal fator de produção.

A produtividade decorre da inovação. Mas esta é impossível sem que haja liberdade dos agentes. Estou me referindo ao fator trabalho. A economia da “sociedade passiva” é mais criativa que a da “sociedade ativa”, mas ela não dispõe da confiança dos agentes do capital.

Nos setores em que se impõe uma concorrência o sistema se organiza em estruturas econômicas com regulamentação praticamente autônoma que garante sua reprodução. São os casos dos monopólios e dos oligopólios, com efeito, nestas estruturas os carteis se formam para garantir a distribuição dos ganhos. Ambos só são possíveis com a anuência das instituições públicas.

As empresas monopolistas estatais são importantes instrumento de reprodução do capital na ausência de concorrência.  Somos obrigados a consumir produtos de baixa qualidade e a preços elevados. O caso do setor de energia é emblemático. É o mesmo no caso dos oligopólios são setores extremamente regulados com o objetivo de impedir a entrada de concorrente. Por exemplo, o setor bancário, mesmo não cumprindo suas clássicas funções, que é financiar a produção, auferem lucros astronômicos.

A produtividade econômica na “sociedade passiva” é superior aquela da “sociedade ativa”. A razão desta superioridade está na livre circulação dos agentes. Entretanto, o capital financeiro e o capital imobiliário chegam escassamente escassos em decorrência da desconfiança dos detentores do capital financeiro.

Portanto, enquanto não resolver estas questões não teremos como resolver nossa relação de desenvolvimento sustentável. Por isso, o roubo de dinheiro público e a corrupção são as únicas formas que a classe empresarial tem de “se virar” em razão do racismo inerente à sua cultura. O ódio ao “outro”, restringe a liberdade e impede o avanço do processo civilizatório.


Devemos Voltar às Escadarias





Ontem, dia 7 de julho, o Movimento Negro Unificado comemorou 42 anos de sua primeira aparição pública. Na escadaria do Teatro Municipal jovens negros protestaram contra o racismo e chamaram a unificação da luta contra a discriminação racial.

Hoje quarenta e dois anos depois, apesar de todos as nossas notórias vitorias, o racismo vem fazendo milhares de vítimas diariamente, muitas delas fatais. A “democracia racial” que o MNU ajudou a sepultar não foi substituída por uma sociedade justa e solidaria.

Naquele momento, a sangrenta ditadura civil/militar não foi capaz impedir que destemidos jovens fossem protagonistas da história. Hoje muitas organizações lutam contra este crime contra a humanidade que se metamorfoseia. É preciso reconhecer e incentivar as coalizões e as convergências que se multiplicam neste enfrentamento sem fim. Destas, devemos incentivar, participar e, até criticá-las, mas jamais  pensar em destruí-las.

Por isso, é preciso “retornar às escadarias”. Este retorno significa voltar para às ruas, mas resgatando um discurso capaz de agregar todas as formas de discriminação. Estando nas favelas, nas invasões, nas palafitas, onde estão os negros. Nas escolas de samba, nos grupos Reeper, onde se produz o lazer e cultura. Nos espaços das religiões de matrizes africana, buscando a construção de outro processo civilizatório. Nestes locais o MNU será capaz de construir um projeto que não seja caudatário dos discursos das elites culturais reformistas.

Assim, nossa luta deve ir em direção de uma sociedade justa e solidária em que as diferenças entre as culturas não sejam hierarquizadas para controle racial.

terça-feira, 30 de junho de 2020

Esquerda e Direita um Debate Sem Fim no Movimento Social





Um dos principais dilema dos movimentos sociais encontra-se em construir aliados e identificar inimigos. O movimento social negro não poderia ficar indiferente a este debate. Os inimigos já foram identificados e os aliados se encontram naquele campo que chamam de esquerda que abriga parcela significativa do que chamo de elite cultural. Podemos ver o Movimento Negro Unificado neste campo desta categoria histórica criada na revolução francesa.
Ver o MNU como uma organização de “esquerda” é uma leitura possível, não é correta nem incorreta. Não consigo ler o mundo em dicotomias. Mas aquilo que muitos chamam de “esquerda” eu prefiro chamar de “amigos desleais” e aquilo que chamam de “direita” prefiro chamar de “inimigos ideias”.
Os primeiros nos traem logo assim que atingem seus objetivos, isto é, quando assumem o poder. Somos indicados para os cargos sem expressão política ou estratégica – Ministro sem pasta; pois em cargos de destaque teríamos a imagem divulga o que ajudaria na auto-estima do Povo Negro. Ou somos colocados em cargos importantes, mas sem verbas, como a SEPPIR, Secretarias de Cultura e fundações.
O que ainda é pior, não implantam as políticas estratégicas que podem combater o racismo em sua base. Neste caso, o exemplo notório é a implantação da Lei 10.639/2003 aqui na Bahia. Outro exemplo, a Secretaria de Educação da prefeitura de um desses partidos da elite cultural reformista nada fez para implementar esta lei, mesmo sendo o órgão comandado pela “negona da cidade”.
Outro caso, o governo atual também de partido da elite cultural reformista desconstrói instituições que são ocupadas na esmagadora maioria pelo Povo Negro. Veja o caso dos contingenciamentos das verbas das instituições de ensino superior e o fechamento de importantes unidades de ensino básico.
Completando, neste último exemplo:  importantes quadros do movimento negro, lideranças com papel histórico, são colocados em quadro de terceiro escalão e, pasmem! em terceirizadas. Ou são impedidos de concorrer, como aconteceu em uma das últimas eleições para prefeito nesta “capital mais negra do Brasil”.
Os nossos inimigos ideais, isto que chamam de direita não merece aqui nenhum comentário.
Por isso, vejo o Movimento Negro Unificado como uma “organização insurgente”, focada na luta contra o racismo, o que não é o caso de nenhuma destas organizações das elites culturais conservadora.

sábado, 20 de junho de 2020

Vidas Negras importam: para quem?




Vou colocar a seguinte questão: vidas negras importam para quem? Adianto quatro hipóteses, embora acredite que outras existam, a depender do perfil ideológico de quem responde: para o mercado, para o governo, para a família e para a comunidade. Vou apresentar alguns argumentos, mostrando a importância que estes agentes atribuem às vidas negras, se estas importam ou não, veremos.  Em seguida, faremos algumas considerações finais.
Vamos lá.


Para o mercado


Para o mercado sabemos que “Vidas Negras Não Importam”, pois o racismo é notório em todas as suas instituições. Racismo na Cultura, Racismo na Economia, Racismo na Política, Racismo na Segurança, entre outras. “Esta estrutura é a arena” onde vivemos, é nela que temos que atuar e lutar para transformá-la. Sem a livre circulação do negro enquanto agente econômico neste mercado não haverá crescimento e muito menos desenvolvimento sustentável. Nós, Negros compomos a maioria de empresários neste país, estamos na “nação passiva”, mas não temos crédito, pois os banqueiros são brancos e, por isso, não confiam nos empresários negros, logo não emprestam seus capitais. Nós vimos no discurso do atual Ministro da Fazenda na reunião ministerial: “vamos ganhar dinheiro emprestando aos grandes (brancos) e perder dinheiro emprestando aos pequenos” (negros). Não podemos nunca esquecer que nosso ministro da é banqueiro.


Para o governo

            Para o governo é evidente que “Vidas Negras Não Importam”, pois a esta instituição caberia tomar as medidas necessárias para garantir o “direito de ir e vir” dos negros, uma vez que a restrição à liberdade está na essência do racismo. Por exemplo, no caso da Cultura, a Lei 10.639/2003 não foi implantada, nem mesmo em estados e municípios governados pelas elites culturais reformistas, que é o caso da Bahia e da Prefeitura de Salvador, onde vivemos; no caso da Economia, nenhuma medida para garantir a igualdade de oportunidades na busca de trabalho; no caso da política, todos os partidos burlam as leis de cotas para mulheres, sem qualquer ação do governo; no caso da segurança: são quase mil mortes de Afrobrasileiros por dia. A maioria destes crimes não são apurados. Quem mata é a sociedade, hegemonizada por um discurso racista de ódio ao “outro”. Na certeza da impunibilidade, na medida que atende aos interesses ideológicos de seus líderes, esta continua executando seus cálculos racionais de genocídio. É isto que entendo por racismo.
           

Família e a Comunidade

            Estas duas instituições devem ser aproximadas. Pois para elas as “Vidas Negras Importam”. Mas o que tem feito as famílias, senão chorar seus mortos. Elas estão sós, chorando e clamando por Justiça. E o que tem feito a Comunidade, senão contar nossos mortos. Estamos sós! “Por nossa própria conta”. Por isso, é fundamental efetivar um elo constante entre as famílias e as comunidades.
Mas são as duas instituições nas quais devemos empregar nossos esforços para mudar esta realidade. Precisamos ter fortes organizações para construírem estruturas de ação e reação. Organizações de advogados, para agir em cada assassinato, assessorando às famílias e exigindo investigação. Organizações sociais para dar apoio moral, psicológico e financeiro às famílias. Organizações de policiais negros, para discutir internamente nos aparatos de repressão que “Vidas Negras Importam”. Organizações de intelectuais negros, para fazer uma leitura da sociedade a partir de uma análise de nossa realidade social, sem nos referenciarmos pelos modismos importados ou pelos intelectuais decadentes da elite cultural reformista, organizações estas que sejam capazes de construir “um novo regime de verdades”.  Organizações políticas, para disputar o poder “do ponto de vista racial” do povo Negro. Propor atividades políticas como manifestações dentro de nosso ponto de vista. Vejam as últimas, foram corretas, mas inoportunas. Corretas porque denunciam o genocídio. Inoportuna em razão da pandemia, da amalgama com outras bandeiras de luta e da possibilidade de uso para acúmulo político, especialmente político/eleitoral.
E, acima de tudo, organizações religiosas negras, para garantir a livre manifestação de nossa espiritualidade e a ligação com nossas ancestralidades. Hoje violentamente atacadas porque são responsáveis pela transmissão de “nossos saberes ancestrais, especialmente os de natureza religiosas”, mas também medicinais, sociais e culturais que “foram e são valorosos e parte fundamental do patrimônio cultural e político do nosso povo”.
Portanto, para concluir, para que façamos que nossas vidas importem devemos lutar por uma sociedade justa e solidária. Principalmente neste momento de crise decorrente principalmente da incapacidade das elites culturais de conviverem com a diversidade.

quinta-feira, 18 de junho de 2020

DE VOLTA ÀS ESCADARIAS: quarenta anos de lutas, vida longa ao MNU



De volta às Escadarias: quarenta anos de lutas, vida longa ao MNU





Há quarenta e dois anos o Movimento Negro Unificado nascia em uma manifestação em São Paulo. Jovens revolucionários enfrentavam uma violenta ditadura para protestar contra o racismo que atingia os afro-brasileiros desde que os primeiros deles de nós colocamos os pés neste país, sequestrado pelo usurpador português.

Desde este manifesto insurgente, passaram-se quarenta e dois anos de lutas. Temos muitas vitórias a comemorar. Elas estão espalhadas por vários setores. Podemos exemplificar com a consagração do Vinte de Novembro e com as cotas na universidade. Hoje estas duas grandes conquistas estão ameaçadas.

Este avanço, fruto do lento amadurecimento das instituições sociais, políticas e econômicas, iam ao encontro dos interesses dos Afro-brasileiros. Eles caminhavam na direção de uma sociedade justa e solidaria. Na conjuntura atual eles retrocedem aceleradamente. É preciso, portanto, voltar as escadaria.

Novamente o Movimento Negro Unificado deve se manifestar. Principalmente, porque não estamos sós. São muitas organizações espalhadas por todo país, algumas isoladas outras coligadas, mas todas convergindo para o caminho que o MNU heroicamente trilhou há quarenta anos.

Devemos apresentar nossas propostas de forma que não deixem dúvidas de nossos propósitos e para impedir que a juventude que tanto contribui com construção do MNU não seja atraída por falsas palavras de ordem e estranhas bandeiras de luta. A luta contra o racismo é nossa bandeira.

Neste momento de crise, as elites culturais responsáveis pelo histórico atraso do país e, acima de tudo, pela calamitosa crise sanitária que nos atinge, se articulam em manifestos pela democracia deles. Esquecem que o “objetivo básico de um regime democrático é coibir o uso de poderes arbitrários” que eles inseriram em suas instituições - Assim, “estaojuntos” para uma democracia de fancaria, onde negros e negras serão avaliados em arrobas.

O racismo é uma manifestação de ódio ao “outro”, que funciona pela restrição da liberdade daqueles que são diferentes dos seguimentos das elites culturais dominante. Assim, onde o racista estiver presente, ele influenciará suas instituições para garantir seus privilégios e os de seus semelhantes. Assim, como “o preço da liberdade é a eterna vigilância”, a luta contra o racismo está na base desta “eterna vigilância”.

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Justica e Solidariedade: um timido caminha dentro do silêncio


Discutir Justiça e Solidariedade diante do abando em que se encontram a maioria da população afrodescendente em nosso país requer um longo exercício de paciência. Com efeito, estas maiorias não reclamam e a minoria não aceita, pois naturalizam seus seculares privilégios.

Milhares de negras e negros são mortos todos os meses no Brasil. Sejam por armas do crime organizado, sejam por aqueles que, nós cidadãos financiamos; ou sejam em ações do cotidiano de suas vidas precárias. A maioria esmagadora destes crimes ficam impunes. Muitos são explicados apenas por uma frase “é coisa do tráfico”. Não existe a mínima menção à necessidade de justiça. Esta quando se manifesta é lenta e parcial. Vimos que só movimenta com rapidez com objetivos políticos.

A justiça americana é rápida, porém parcial, vejam os milhões de afro-americanos encarcerados. Na América, o afro-americano se revolta clamando por justiça, aqui assistimos passivamente o genocídio do afro-brasileiro. Até quando. Lá o Estado rapidamente os encarcera; aqui o Estado, rapidamente os eliminam. Em ambas as realidades, seus olhos estão bem abertos para os Afrodescendentes.

É preciso uma intensa luta por Justiça em nosso país. Esta luta será capaz de mobilizar outros segmentos também discriminados na lógica excludente deste sistema. Assim, poderíamos agregar: mulheres, LGBT+, judeus, índios etc. Somente com uma grande mobilização daqueles que são os alvos preferidos desta “justiça”, teremos capacidade de modificar esta realidade.

Manifestantes em Curitiba prestam solidariedade aos americanos que protestam contra o assassinato de um Afro-americano pela. Muito interessante! Mas porque que eles não se manifestaram contra o assassinato de um jovem negro no Rio? Eles lutam por solidariedade. Importantíssimo prestam uma solidariedade internacional, mas se negam a lutar por justiça no nível nacional.

Cada família atingida pela “bala justiceira” se sente só. Os atos de solidariedades e as atitudes de protestos são passageiras. Aqui, de imediato fecha-se uma rua e queima-se um ônibus, depois, são mais um número nas estatísticas do genocídio. É necessário dar apoio a estas famílias para acompanharem os processos.

Portanto, a Justiça e Solidariedade devem estar no centro de todas as ações que intentam bloquear a continuidade deste genocídio. Faz-se urgente gritar por elas.

quarta-feira, 13 de maio de 2020

13 de maio: nada a comemorar.


13 de maio: nada a comemorar. 


A mentira e a violência contra a cultura são fundamentais para a manutenção do racismo. É isto que pretendemos demostrar com este breve texto que nos motiva o aniversário da lei da farsa.


Esta data é a maior farsa de nossa história, que já é um acumulado de mentiras oficiais. Fingiu-se acabar com quase quatro século de exploração e opressão com três linhas de uma lei. As elites do país agiram desta forma pressionadas pela crise econômica e pela pressão internacional, assinando mais uma lei para “inglês ver”. Como diz o poeta: “livre do acoite da senzala, preso na miséria da favela”.


A farsa reforça-se quando computamos a quantidade de escravizados existentes no país quando foi assinada esta lei. Em números aproximados, chegamos a menos de 10% da população negra nesta condição. A maioria estava localizada nos centros de expansão econômica, principalmente no oeste paulista, área de expansão da “indústria” cafeeira.


Um quantitativo significativo de negros já estava livre da escravização, mas estavam presos a miséria do racismo e das leis opressoras que não foram abolidas na farsa das três linhas. Estes eram, entretanto, a maioria da população brasileira. Por isso, as elites iniciaram um processo de apagamento das culturas dos descendentes de africanos. Hegemônicas naquele momento.


Em razão do racismo, 128 após mais uma “lei para inglês ver” o Povo Negro continua, em sua esmagadora maioria, à margem dos avanços da modernidade ocidental. Sem possibilidade de livre circulação, não conseguimos produzir riquezas. Mesmo os poucos que as produzem veem os frutos de seus trabalhos serem transferidos aos “herdeiros da rainha” em razão do sistema racista. 


Portanto, nesta data de hoje, de nada a comemorar, é fundamental que se restabeleça a verdade histórica para que possamos usufruir de uma verdadeira liberdade, fazendo avançar nossas tradições culturais.

sábado, 25 de abril de 2020

As lideranças das elites se unem para que?


"LULA, FHC, Ciro, Dino e Maia vão dividir palanque virtual no dia do trabalho". A quem serve a lamentável união das elites culturais.


Quando escrevi: “lamentável” referia-me aos interesses do Povo Negro. A divisão das elites culturais é importantíssima para os projetos insurgentes.

As quatro citadas lideranças são digníssimas representantes das elites culturais. Guardando as devidas proporções, seus projetos são divergentes. No entanto, existe um consenso entre elas, qual seja a imperiosa necessidade de manter os Negros afastados do poder. É agradável anotar, entretanto, que LULA em decorrência das contradições dos segmentos que o sustenta fez avançar algumas medidas, importantes, embora tênues que motivaram toda esta “pandemia política” que nos assola desde o golpe sobre a sucessora que ele fez. 


Lula, Dino, FHC e Ciro representam a elite cultural reformista, para a qual todas as reformas podem ser possíveis, menos aquelas que possibilitem uma efetiva disputa cultural. Nomeiam negros para as pastas do esporte, da cultura e coisas afins. Adotam algumas medidas liberalizantes como o domínio machista contra o corpo, o respeito as diferenças de gênero, e aí..., não por diante. Mas, o modelo judaico/cristão ocidental tem que permanecer intocável. Portanto, é o domínio cultural sua maior preocupação,


Maia representa a elite cultural conservadora, onde estão os ACMs, os Bonhausem, o atual presidente, para os quais o ideal é o retorno à escravidão. Mas se contentam, no momento, com o retorno das trabalhadoras domésticas aos trabalhos dominicais. Para este grupo, negro é folclórico, índio deve ser exterminado, quilombo é terra de negro fujão e o corpo pertence ao estado. 


Em resumo, para as elites insurgentes, nas quais nos incluímos, o ideal é apostar na divisão dos segmentos que apoiam as lideranças citadas. Com a disputa entre elas podemos fazer avançar algumas propostas que podem fazer avançar a disputa cultural na sociedade brasileira.